quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Novas edições:
Atoms For Peace, Amok

Atoms For Peace 
'Amok' 
XL Recordings / Popstock 
3 / 5

A expressão surgiu no título de um discurso histórico do (então) presidente dos EUA Dwight Eisenhower proferido na Assembleia Geral da ONU, em dezembro de 1953. Sessenta anos depois é (depois de ter dado título a uma canção a solo de Thom Yorke), o nome de uma banda que, para todos os efeitos, corresponde ao conceito que habitualmente aplicamos à noção de supergrupo. E basta ver de quem falamos para entendermos do que falamos. Sob a designação Atoms For Peace apresentam-se Thom Yorke (a voz dos Radiohead), o teclista Nigel Godrich (produtor com créditos reconhecidos em discos de nomes como os Radiohead, Beck ou Air), Flea (baixista dos Red Hot Chilli Peppers), o baterista Joey Waronker (que trabalhou junto dos R.E.M. ou Beck) e o percussionista brasileiro Mauro Refosco (que já encontrámos em colaborações com Brian Eno ou Red Hot Chilli Peppers). Começaram por trabalhar juntos como banda de apoio a Thom Yorke por ocasião da criação do seu álbum a solo The Eraser. O entendimento a cinco não se esgotou contudo aí, o grupo reunindo-se para algumas experiências em palco e, mais tarde, outras sessões de trabalho das quais emergiram ideias, formas e gravações que, depois, Yorke e Godrich trabalharam para delas fazer emergir as formas que, agora encontramos nas suas expressões finais como canções. A premissa maior (ou, se quisermos, o denominador comum) que juntou os cinco músicos foi a partilha de um gosto pelo afro beat e, em particular, a obra de Fela Kuti. E Before Your Eyes..., o tema que abre o alinhamento de Amok, deixa bem clara essa carga genética. Porém, à medida que a canção avança, o que eram os elementos rítmicos e as linhas de guitarras e baixo que definiram o clima afro beat dos primeiros instantes cedem terreno a uma progressivamente mais evidente presença das eletrónicas, como que assegurando uma transição entre o patamar das referências e os caminhos que, por si, o disco acaba depois por tomar. O afro beat que os reuniu torna-se assim uma presença subliminar, um tom de desafio nascendo na verdade mais próximo de algumas das experiências dos Radiohead pós-Kid A, a voz de Thom Yorke e as soluções cénicas e de arrumação instrumental que define com Godrich acabando por sublinhar todo esse universo de afinidades. Há porém um sentido de liberdade formal transversal aos nove temas que constituem o alinhamento, servindo Default (corretamente escolhido como um dos singles de antecipação) como a mais evidente aproximação de Amok aos espaços mais “clássicos” da canção. A (saudável) liberdade que atravessa o disco – e que certamente traduz o clima de entusiasmo pela experiência e ensaio de ideias – acaba porém por ofuscar o que podia ser uma mais aprumada arrumação e ordenação de ideias. Mesmo assim, respiram-se aqui mais ideias e bons momentos que os que temos escutado entre os últimos álbuns dos Radiohead.