quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Gangsters contra super-heróis

Com um elenco que inclui Sean Penn, Josh Brolin, Emma Stone e Ryan Gosling, Gangster Squad (entre nós chamado Força Anti-Crime) é um exemplo menor, mas curioso, de revisitação do património do filme noir — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Fevereiro), com o título 'A nostalgia no interior de Hollywood'.

Até que ponto as formas de violência figuradas nos filmes reflectem as formas de violência fora dos filmes? Eis uma pergunta que assombra o cinema e, não poucas vezes, tem favorecido uma dicotomia redutora: até que ponto os espectadores “repetem” aquilo que vêem nos filmes?... Assunto vasto e complexo, no qual Força Anti-Crime, de Ruben Fleischer, se veio inscrever de forma incómoda (já que, no Verão de 2012, os ecos trágicos do tiroteio no estado do Colorado levaram a adiar a sua estreia). Face ao seu lançamento comercial, talvez seja útil distanciá-lo de todo um debate ideológico e moral que lhe é exterior, sublinhando o paradoxo do próprio objecto: um filme da idade dos efeitos especiais que, com convicção forte e talento moderado, tenta remar contra a maré dos super-heróis e recuperar as histórias de gangsters dos anos 30/40.
Curiosamente, Força Anti-Crime acaba por evocar uma vaga revivalista que marcou os anos 70, tendo como bandeira A Golpada (1973), uma história de Chicago nos anos 30 dirigida por George Roy Hill. Predomina, aqui, uma valorização dos ambientes que encontra a sua expressão exemplar na cenografia (Gene Serdena) e na direcção fotográfica (Dion Beebe). E há qualquer coisa de bizarro em tal opção, já que tende a contrariar as muitas opções digitais que, hoje em dia, distinguem a produção de Hollywood enraizada nos géneros tradicionais. Dir-se-ia que Fleischer se fixa na nostalgia de um modelo de produção que, afinal, há muito deixou de fazer parte das opções dos grandes estúdios americanos. Está longe da excelência de clássicos como Relíquia Macabra (John Huston, 1941) ou À Beira do Abismo (Howard Hawks, 1946)? Sim, claro. Em todo o caso, sintoma revelador, o estúdio é o mesmo: Warner Bros.