quinta-feira, fevereiro 07, 2013

Discos pe(r)didos:
Electribe 101, Electribal Memories

Electribe 101 
“Electribal Memories” 
Mercury Records 
(1990)

O momento de ebulição que a música de dança made in UK viveu entre finais dos oitentas e inícios dos noventas deu visibilidade a uma série de vozes femininas de escola soul (e arredores) que ajudaram a cruzar caminhos entre os espaços que então emergiam das variações em curso nos espaços da cultura house, hip hop e suas periferias. Nomes como os de Alison Limerick, N'Dea Davenport, Carleen Anderson fizeram carreira ora a solo, em bandas ou através de colaborações (a primeira, entre outros, junto do James Taylor Quartet, a segunda nos Brand New Heavies, a terceira inicialmente nos Young Disciples). Alemã,.natural de Hamburgo (cresceu com os avós no red light district da cidade), Billie Ray Martin começou por escutar a música de nomes como os Human League ou Cabaret Voltaire, mais tarde descobrindo Martha Reeves e Aretha Franklin, encontrando finalmente a sua voz junto de primeiras expressões da cena house britânica, tendo colaborado, por exemplo, no álbum de estreia dos S'Express (onde a ouvimos em Hey Music Lover). É também em solo britânico que se junta a um quarteto de Birmingham com nome que cruzava a memória de um frigorífico russo e de um teclado da Roland, o SH-101. Estrados com um primeiro single em 1988 (Talking With Myself), os Electribe 101 tiveram no seu álbum de estreia (o único que na verdade gravaram sob o nome Electribe 101) uma das peças mais vibrantes (no formato de longa-duração, entenda-se) de um espaço que, entre nomes como os Beloved ou Deee-Lite, propunham então uma nova visão para a canção pop, assimilando linhas e formas da nova música de dança. Electribal Memories, sem se fechar num só corredor de estilo (aqui vamos desde os domínios da house e das cercanias com arestas polidas dos terrenos acid até espaços de uma pop eletrónica não muito distante do que então ouvíamos nuns Pet Shop Boys), conhecendo na luminosa voz de alma soul de Billie Ray Martin uma das suas marcas de identidade, o álbum dos Electribe 101 chegou mesmo a gerar pontuais focos de entusiasmo através de singles como Tell Me When The Fever Ended, Inside Out ou, após reedição, o sedutor Talking With Myself. O facto de não terem continuado carreira sob este nome (quando editaram um outro disco já o fizeram sob a designação The Groove Corporation) talvez ajude a explicar o progressivo esquecimento a que o álbum acabou por ser votado. Talvez este ano, nos 25 anos da sua estreia em single, alguém dê por ele num baú de memórias e o devolva a nova vida (uma reedição remasterizada e em vinil, entenda-se). Merecia!