quinta-feira, fevereiro 14, 2013

Discos pe(r)didos:
Visage, The Anvil


Visage 
“The Anvil” 
Polydor 
(1982) 

Muitas vezes reduzidos à memória de Fade to Grey e ao papel de Steve Strange na afirmação de um espaço de revolução no panorama da noite londrina de finais dos anos 70 e início dos 80, os Visage foram contudo um espaço de confluência de talentos e voz maior de um movimento que então deu a conhecer nomes como os Duran Duran, Spandau Ballet ou Classix Nouveaux. O grupo teve como pilares estruturais Steve Strange (de facto, um dos rostos centrais do movimento new romantic, um dos figurantes no teledisco de Ashes to Ashes de Bowie e célebre “porteiro” do clube Blitz, diz-se que tendo mesmo chegado a negar a entrada a Mick Jagger, porque não ia bem vestido) e Rusty Egan, este o DJ que servia a banda sonora das míticas Bowie Nights que acabariam por definir importantes rumos para a pop na alvorada dos oitentas. Mas com eles estavam ainda elementos dos Magazine (entre eles Barry Adamson) e dos Ultravox, tendo os Visage sido mesmo o espaço que aproximou Midge Ure do grupo que pouco depois viria a servir como vocalista após a saída de John Foxx. Depois do quase invisível Tar (single editado em 1978) editaram em 1980 Visage, um álbum de estreia que podemos entender como o paradigma do movimento new romantic, aliando uma pop animada pela alma new wave, maquilhada depois com elaborado trabalho de cenografia (onde os sintetizadores marcavam importante presença). Dois anos depois um segundo álbum entrava em cena e, apesar do ainda mais afinado trabalho visual (bem visível na capa e fotos promocionais da época), era contudo um disco com um plano musical igualmente focado, optando desta vez por explorar uma relação mais profunda com as electrónicas (podemos mesmo vê-lo como uma expressão pioneira de sugestões electro em clima pop) e com o trabalho de percussões e metais, criando um híbrido novamente apontado a cenários noturnos. The Anvil é na verdade mais desafiante que a galeria de quadros requintados do álbum de estreia, o tom tribal de Wild Life, o fulgor quase teatral de Night Train, a vibração metronómica de Move Up e as pérolas mais elegantes servidas ao som de Damned Don’t Cry e Whispers fazem do alinhamento de The Anvil um disco não menos interessante que o álbum de 1980, tradicionalmente aquele que se evoca quando se lembra os Visage. O grupo editaria ainda em 1984 Beat Boy, um terceiro álbum de originais já revelador da ausência de Midge Ure e outros talentos maiores na equipa criativa, dando sinais de um fim eminente, que de facto não tardou.