Yo La Tengo
“Fade”
Matador
4 / 5
São quase três décadas de carreira e já mais de vinte anos com a presente formação... Tempo suficiente para definir um lugar próprio que, na verdade, se fez mais de uma vontade em cruzar experiências e referências que propriamente vincar um caminho mais nítido e fechado num comprimento de onda de catalogação mais clara. É de resto essa saudável dúvida que alimenta a demanda dos Yo La Tengo que, ao longo dos anos, talhou uma base de admiradores sólida e, mesmo não tendo nunca a banda conhecido as luzes maiores daqueles fenómenos indie que escreveram a história de um particular episódio na história da música, são antes (e mais ainda agora, que os Sonic Youth saíram de cena) uma espécie de materialização em forma de trio do conceito “old faithfull” que, como o geyser no parque de Yellowstone, nunca falha. Não vai muito para lá do que se espera... Mas não falha. Fade era por isso esperado com curiosidade, mas não impaciência. E até mesmo a presença de John McEntire (dos Tortoise e Sea and Cake) não representa necessariamente uma vontade em caminhar por rumos que não os seus (talvez em Well You Better notando-se mais evidente aquele sabor pop gourmet que conhecemos nos Sea and Cake). De resto, é inequívoca a presença do disco naquele patamar rock alternativo clássico (linhagem pós-Velvet), mas de vistas bem largas, que tem caracterizado a sua discografia. O álbum apresenta duas faces bem distintas. Uma primeira metade ritmicamente mais marcada, com baixo presente, ensaiando ora uma visão conjunta de heranças do psicadelismo e do kraut no eletrizante Ohm (que abre o alinhamento), mas com momento maior em Stupid Things, que recupera por sua vez, devidamente assimiladas, heranças new wave. O melhor do disco chega contudo numa segunda face, mais melancólica e dotada de cenografias discretas, embora elaboradas, que abre com um pontual olhar por espaços folk (como o poderiam ter feito uns Velvet Undreground por volta de 1969/70) em I’ll Be Around e uma sucessão de quatro outras belíssimas canções, num alinhamento coerente que encerra com elegância, e sob sugestões de ambição orquestral, em Before We Run. Não esperemos aqui a revolução. Não será um disco para fazer a revolução ou mesmo a história de 2013. Mas mostra uma vez mais a solidez na escrita de uma banda veterana que vive tranquila no seu tempo e no seu lugar.