Eleni Karaindrou
“Concert in Athens”
ECM
4 / 5
“Concert in Athens”
ECM
4 / 5
Mais que a “voz” musical que habitou o cinema de Theos Angelopoulos (até porque a sua música aí não se esgotou, nem mesmo apenas no espaço do cinema), a compositora grega Eleni Karaindrou tornou-se, com o tempo, num dos nomes de referencia do catálogo da ECM. É certo que os títulos que lhe deram notoriedade discográfica foram as bandas sonoras de filmes como, O Passo Suspenso da Cegonha (1991), O Olhar de Ulisses (1995), o premiado em Cannes A Eternidade e Um Dia (1998) ou a trilogia To livadi pou dakryzei (internacionalmente estrado como The Weeping Meadow), todos eles de Angelopoulos, merecendo ainda destaque evidente o álbum Music For Films (de 1991, que junta ao seu trabalho com Angelopoulos experiências no cinema de Christoforos Christofis e Lefteris Xanthopoulos). Mas convém não ignorar a sua visão musical para uma produção para cena d’As Troianas, merecendo o álbum Trojan Women (2001) contar-se entre os mais recomendáveis de uma discografia que há muito traduz a expressão de uma identidade de autor bem demarcada. A música de Karaindrou herda marcas da identidade cultural que lhe serve de berço, escapando todavia aos modelos da música “tradicional” pela forma como na genética da música grega encontra pontos de partida que junta às sugestões das paisagens físicas e humanas que o cinema e o teatro lhe foram pedindo, encontrando um espaço sobretudo habitado por notas de melancolia mas que é claramente expressão do presente e de um sentido dramático ligado às obras que integra. A sua música para cinema e teatro transcende contudo a vivência na sala, revelando uma capacidade invulgar em respirar com fôlego uma segunda vida quando chega a disco e as imagens não são senão memória do que vimos num ecrã ou, quando muito, na capa e booklet que acompanha o disco. São raras as edições de Karaindrou extra cinema e teatro. Em 2005 chegou-nos Elegy of The Uprooting, um duplo álbum ao vivo gravado com orquestra sinfónica. Agora, em Concert In Athens encontramos um segundo retrato de palco, este na companhia de uma orquestra de câmara e contando com a expressiva contribuição em palco do saxofonista norueguês Jan Garbarek (que consigo trabalhara em O melissokomos, ou seja, The Beekeeper) e o violinista norte-americano Kim Kashkashian (colaborador em O Olhar de Ulisses). O programa do concerto é extenso, feito essencialmente de excertos de obras criadas para o grande ecrã e para o palco, a partilha do espaço com os dois convidados alargando horizontes às composições originais, libertando-as para novas visões, frequentemente para lá do limiar dos espaços de um certo jazz mais contemplativo. Ao contrário do álbum ao vivo de 2005 ou da antologia Music For Films, este talvez não seja o cartão de visita ideal para a descoberta de Eleni Karaindrou nem mesmo serve uma possível síntese da sua obra até aqui. É, antes, uma variação possível que mostra como um caminho, afinal, pode ter ramificações sem que tal implique que se perca uma noção de rumo.