quarta-feira, dezembro 26, 2012

Os melhores livros de 2012

E com os livros que fizeram a história de um ano de leituras ficam contadas as listas que dão conta de lançamentos que marcaram 2012. Foi um ano muito divido entre livros técnicos (sobretudo na área da música) e ficção (aqui acolhendo alguns títulos na área da BD) e, por interesse pessoal, com algum espaço ainda para a ciência e a história.

O melhor do ano ficou por conta de Fun Home, de Alison Bechdel, que mereceu o título de livro do ano para o New York Times em 2008 e que em 2012 teve tradução publicada entre nós. Como aqui mesmo escrevi há alguns meses, foram sete anos de trabalho para a autora (a criadora das tiras Dykes To Watch Out For). Não é exatamente uma BD nem a devemos descrever como uma novela gráfica, mas antes uma memória gráfica. Fun Home - Uma Tragicomédia Familiar (o título guarda um duplo sentido, uma vez que a casa de que se fala é, além de um espaço de família, uma casa funerária) é um percurso auto-biográfico da juventude da autora, Alison Bechdel, essencialmente focado em si e na sua relação com o seu pai, ambos homossexuais, cada qual descobrindo e vivendo contudo a sua sexualidade de modo diferente, acrescentando Alison que o pai era alguém que tratava os móveis como pessoas e as pessoas como móveis. Ainda nos espaços das graphic novels e BD destacam-se ainda as edições de O Juramento dos Cinco Lords, de Yves Sente e Andre Julliard, talvez a melhor aventura pós-Edgar P. Jacobs da dupla Blake & Mortimer, e Persepolis, de Marjane Satrapic, as memórias que já conhecíamos na versão que realizou para cinema.

A história do que fui lendo ao longo do ano passou ainda pela continuação da descoberta de duas obras que cada vez mais ganham por aqui um valor de referência. Por um lado Bruce Chatwin, de quem este ano a Quetzal lançou um livro de correspondência mas também Utz, um pequeno (mas soberbo) romance que nos transporta ao que foi a Checoslováquia e a um olhar crítico sobre vidas e hábitos do outro lado da Cortina de Ferro. Político é também o cenário da Berlim dos anos 30 que acolhe Mister Norris Muda de Comboio, que é já o quarto volume de obras de Isherwood que a mesma editora já lançou (sendo que este ano publicou ainda Encontro À Beira Rio). Entre o espaço da ficção assinale-se ainda a publicação pela Sextante de Um Dia Na Vida de Ivan Deníssovitch, gritante relato de vinte e quarto horas na vida de um prisioneiro de um gulag (experiência relatada sob profunda carga autobiográfica) e ainda uma maravilhosa coleção de pequenas narrativas de Ryunosuke Akutagawa, o pai do conto na literatura japonesa.

Nos departamentos do ensaio vale a pena assinalar (e sugerir a tradução e edição local) de How Music Works, uma série de reflexões de David Byrne sobre a música e a sua própria história pessoal como músico. Ao melhor que li este ano junte-se ainda mais um título de Antony Beevor sobre a II Guerra Mundial, neste caso um olhar focado sobre a queda do III Reich procurando compreender como um regime em colapso se manteve repressivo e implacável até ao fim. E ainda o contundente Pipocas e Temelóvel, onde Carlos Fiolhais e David Marçal desmontam os mitos da falsa ciência.

1. Fun Home, de Alison Bechdel (Contraponto)
2. Utz, de Bruce Chatwin (Quetzal)
3. How Music Works?, de David Byrne (Canongate Books Ltd)
4. Um dia Na Vida de Ivan Denissovich, de Alexandr Soljenintsin (Sextante)
5. Até Ao Fim, de Anthony Beevor (D. Quixote)
6. O Juramento dos Cinco Lords, de Yves Sente e Andre Julliard (ASA)
7. Mister Norris Muda de Comboio, de Christopher Isherwood (Quetzal)
8. Piopcas e Telemóvel, de Carlos Fiolhais e David Marçal (Gradiva)
9. Persepolis, de Marjane Satrapi (Contraponto)
10. Rashomon e Outras Histórias, de Ryūnosuke Akutagawa (Cavalo de Ferro)