segunda-feira, dezembro 10, 2012

Novas edições:
Moullinex, Flora


Moullinex 
“Flora” 
Discotexas 
4 / 5

É um espaço relativamente pouco habitado entre portugueses, o da (boa) relação da canção com a (boa) música de dança. Podemos recordar, nos anos 90, experiências como os Black Out ou DR Sax, outras mais adiante, mas em geral pouco consequentes enquanto forças de mercado ou como motores para a criação de algo maior e mais consequente. Moullinex pode ajudar a fazer a diferença. O projeto, criado pelo português Luis Clara Gomes (que depois de uma etapa em Munique reside agora em Lisboa) já roda entre o circuito há um bom par de anos e pelo caminho já somou uma bela mão cheia de singles e um lote (impressionante) de remisturas para nomes que vão de um Sebastien Tellier ou Two Door Cinema Club a Cut Copy, WhoMadeWho ou Publicist. Agora chegou o álbum, a que chamou Flora e que, além de lhe poder dar outra visibilidade, garante também à editora Discotexas (da qual é um dos fundadores) um dos seus lançamentos mais consistentes. Corolário de uma série de demandas que nos foi mostrando nos singles e remisturas, convocando referencias que passam pelo disco sound, a pop dos anos 80 (coisa temperada, mas não embasbacada pela nostalgia), ecos de escolas R&B, e olhares que tantos revelam afinidades com os percursos referenciais de um Giorgio Moroder ou o sentido contemporâneo da atitude de um Lindstrom, olhando bem além dos modelos tornados célebres pelos Daft Punk em que se deixaram atolar nos últimos anos muitos outros partilhando interesses semelhantes. Singles como Sunflare ou Take My Pain Away, já editadas como single, ou Déja Vu (com voz de Iwona Skwarek, do projeto Rebeka, que também edita pela Discotexas), que pede igual destino, são cartões de visita para entrar num álbum que acaba por surpreender de fio a pavio. Quer quando pisca o olho a climas eletro no delicioso tema título (talvez o único episódio mais próximo da escola Daft Punk aqui incluído), quando visita um sentido de paisagismo solarengo (que partilha, em doses suaves, genéticas de travo lounge com o inesquecível Gemini, de Sven Van Hees e caminhos doces que Kid Loco em tempos seguiu) ou quando desafia Peaches a reinventar o ultra kitsch Maniac (originalmente interpretado por Michael Sembello na banda sonora de Flashdance) na reta final do alinhamento. No final, Flora deixa uma sensação de sabor pop em coisa que dança. De resto, nunca a canção dançou tão bem por estes lados...