quinta-feira, dezembro 27, 2012

Jorge Jesus, herdeiro de Václav Havel?

Convenhamos que a ideia desta manchete do jornal A Bola é mais interessante do que gastar os dias a injectar a mente dos adeptos do futebol com a noção revanchista de que os resultados dos jogos são uma questão de "justiça" (se uma equipa passar 89 minutos fechada na sua área, receber 27 bolas no poste, mais 135 na barra e, no último minuto, conseguir ir lá à frente para ver um adversário fazer auto-golo, o que é que se faz: proclama-se a "injustiça" e manda-se repetir o jogo?...).
Em todo o caso, vale a pena perguntar que tipo de filosofia, desportiva ou não, justifica (e "justifica" não tem a ver com justiça, mas com justeza) que se apresente Jorge Jesus como herdeiro de Václav Havel? Em que medida a sua ousadia táctica — "Matic, Lima, Salvio, Enzo Pérez e Melgarejo são novidades na espinha dorsal do Benfica" — lhe confere uma dimensão simbolicamente equivalente aos democratas checos que protagonizaram a Revolução de Veludo?
Ou ainda: como entendemos as palavras de que nos apropriamos? Isto é: de que falamos quando falamos com as palavras com que outros, antes do nós, já falaram? Enfim (questão inerente a toda a arte moderna): qual o nosso conceito de citação?
Como contraponto interessante, eis um poema concreto de Václac Havel (traduzido por Eva Batlickova):