quinta-feira, novembro 15, 2012

Uma história de violência


Uma das boas surpresas da secção competitiva do LEFF foi Despues de Lucia, filme do mexicano Michel Franco. Esta é uma versão editada de um texto que foi originalmente publicado no blogue Sessões Contínuas, do DN, com o título ‘A Violência que cresce entre o silêncio’.

Mesmo perante o silêncio de quem é atacado, os atos de bullying acabam por ter consequências... É sob esta premissa, que visa uma ideia de “justiça”, que encontramos no tutano de Después de Lucia, filme mexicano realizado por Michel Franco que passou no LEFF. Com um orçamento reduzido, rodado com câmara digital (e com uma direção de fotografia que quer sublinhar um olhar realista), o filme acompanha a jovem Alejandra e o seu pai, um chef, que procuram nova vida numa nova cidade.

Os primeiros passos que ambos dão até parecem fáceis. Ele, mesmo pouco entusiasmado com staff do restaurante, vai procurando combater o desencanto que se abateu nas suas vidas depois da perda da mulher. Ela faz novos amigos na escola. Mas a partir de um momento em que um vídeo “íntimo” de Alejandra é colocado online pelo rapaz com quem estava, a sua vida transforma-se num inferno, aceitando, sem responder, as mais cruéis humilhações por parte dos colegas. Até o dia em que resolve desaparecer, o silêncio que até aí fez e o que agora passa a fazer acabando por ser indevidamente interpretados pelo pai e professores que, sem conhecimento total da(s) verdade(s), acabam por agir...

A força maior do filme, que faz questão de realçar a falta de comunicação entre gerações (visível nas aparentes conversas que nada dizem entre pai e filha, nas quais ambos dão conta de estar tudo bem onde tudo está mal), são os jovens atores amadores que, sem experiência, respiram o incómodo sentido de desconforto que a escalada de violência vai sugerindo. A realização acentua os silêncios das vidas de Alejandra e do pai e o filme ganha fôlego com a progressiva assombração que se abate sobre a jovem. Pressentimos que algo trágico pode acontecer. Só não sabemos o quê...