quarta-feira, novembro 21, 2012

Pipocas, telemóveis e outras histórias

Os anos que passei na faculdade de ciências, assim como (inevitavelmente) a educação em casa, despertaram em mim um interesse ainda bem vivo pelas questões da ciência. E desde sempre recordo os episódios de urticária que sempre chegam com a constatação de enormidades de pseudociência que ao longo dos anos (e não é de agora) fui reconhecendo nos media e em outros espaços da nossa vida quotidiana. Por estas razões (mas não apenas estas mesmas) o belíssimo Pipocas com Telemóvel, livro co-assinado por Carlos Fiolhais e David Marçal, que a Gradiva recentemente publicou, foi como boa música para os meus ouvidos. Alguns dos temas que aqui abordam já tinham sido tratados no blogue De Rerum Natura onde ambos escrevem. Mas convenhamos que a reunião num volume de tão contundentes retratos dos disparates que por aí se dizem nos dá um belíssimo livro.

O título dá-nos logo conta de uma – entre as muitas – falsas verdades que pela Internet têm saltitado de computador em computador. Juntar milho a um telemóvel dá pipocas?... Pois não. Mas quantos dizem que sim só porque um vídeo colocado na Internet o mostra. Não me digam que acreditam que Darth Vader existe... É que também há vídeos com a personagem criada por George Lucas na Internet... Pois... Mas o que o fazem os autores do livro é desmontar claro, sistemático e bem documentado desta e tantas outras manifestações de falsa ciência que andam por aí. É particularmente interessante o capítulo dedicado aos media. Sou jornalista há mais de 20 anos e sei bem do que falam quando referem a “ditaura do engraçadismo”. A dada altura dizem que “numerosos disparates científicos que surgem nos jornais são escritos por jornalistas não especializados, que ocasionalmente têm de escrever sobre assuntos de ciência”. E, acrescentam, “demasiadas vezes, submetem-se à ditadura do engraçadismo: não importa se isto é verdade ou não, o que conta é que tenha piada, que suscite o interesse”. Touché!

Podíamos ficar por aqui, mas não resisto a referir o modo como desmontam a astrologia. Lemos no livro, quando se referem às tentativas de adivinhação do futuro: “O físico dinamarquês Niels Bohr (1885-1962), um dos autores da teoria quântica, declarou um dia ‘é muito difícil fazer previsões, especialmente do futuro’ [nota minha: quem não entender aqui a piada, mude já de blogue e leia um best seller da saison]”. Lembram depois como um jogador de futebol “recuperou esta sensata ideia no final do século XX” quando fez o célebre comentário “prognósticos só no fim do jogo”... E vale a pena ler depois o que se segue, com referencias concretas a declarações de nomes mediáticos da astrologia lusitana...