O filme 'Avalon', de Axel Petersén, passa amanhã na competição do LEFF. Este texto foi originalmente publicado no blogue Sessões Contínuas, do DN, com o título 'Quando um homem dança só'.
Eis uma boa surpresa que chega da Suécia e revela mais um momento digno de referência entre os filmes em competição nesta edição do LEFF. Chama-se Avalon, e é um olhar desencantado sobre um homem que, no presente, não consegue escapar aos vícios e devaneios dos dias de hedonismo que viveu nos anos 80. Primeira obra de Axel Petersén, Avalon apresenta-nos Janne (interpretado por um fabuloso Johannes Brost), um homem que terminou recentemente um período de prisão domiciliária – por razões que não são nunca levantadas, mas na verdade em nada juntariam informação útil à história. Viveu os seus dias de glória nos anos 80, trabalhou em negócios com arte e agora, na hora de regressar, prepara a abertura de uma discoteca. A Avalon do título.
Estamos numa região suburbana na Suécia e Janne, que tem na irmã a alma que lhe é mais próxima, bebe uns copos a mais por ocasião de um passeio por estradas secundárias e causa acidentalmente a morte a um emigrante lituano que trabalhava na recuperação de uma vivenda. Em vez de ligar às autoridades chama para resolver o caso os mesmos que lhe emprestaram o dinheiro com que financiou a discoteca. E dá assim mais um passo para o abismo no qual, na verdade, a sua vida há muito foi lançada.
As primeiras imagens parecem próximas da crueza dos filmes dogma, mas aos poucos Avalon vai para lá de uma ideia de precariedade de meios e revela sobretudo um trabalho notável na direção de fotografia. É sobretudo notável a sequência, que vinca a profunda solidão do protagonista, na qual Janne dança, ainda com a discoteca vazia, ao som do Avalon dos Roxy Music (momento que justifica afinal a opção de título do filme).