quarta-feira, novembro 21, 2012

Novas edições:
David Sylvian, Arve Henriksen
e Sidsel Endersen,
Uncomon Deities


David Sylvian, Arve Henriksen e Sidsel Endresen 
“Uncomon Deities” 
Samadhi Sound 
4 / 5

Desde há largos anos que o trabalho de David Sylvian não se tem esgotado nas rotinas mais habituais em clima pop/rock, a sua visão transcendendo assim as sucessivas agendas feitas de discos e concertos. O espaço das galerias de arte e dos museus tem representado uma entre as várias das fugas a esses círculos, em algumas ocasiões o trabalho para aí criado tendo depois conhecido registo discográfico, como aconteceu por exemplo com Ember Glance: The Permanence of Memory (colaboração com Russel Mills em 1991), When Loud Weather Buffeted Naoshima (registo em 2007 para uma instalação criada para o Fukutake Art Museum, no Japão), representando a antologia de 1999 Approaching Silence um bom retrato de alguns destes trabalhos. Uncomon Deities, o novo disco de David Sylvian, não é exatamente o registo áudio de uma instalação, mas antes uma consequência direta de um trabalho que criou (e apresentou) para a edição do ano passado do Punkt Festival, um dos mais reconhecidos espaços de encontro de artistas que trabalham segundo métodos de improvisação. Nessa ocasião o Sorlandets Kunstmuseum em Kristiansand (na Noruega) propôs Uncomon Deities, um encontro de várias formas e ideias que contava, entre outras mais contribuições, com uma instalação criada por David Sylvian. E na noite de abertura poemas de Paal-Helge Haugen e Nils Christian Moe Repstad foram lidos em inglês por David Sylvian, cuja voz (pré-gravada) foi acompanhada pelos músicos John Tilbury, Philip Jeck, e Sidsel Endresen. Uncomon Deities, o disco que Sylvian agora co-assina com o trompetista Arve Henriksen e a cantora Sidsel Endresen é por isso uma extensão natural desse momento. Disco spoken word (com acompanhamento instrumental e vocal dos dois co-autores com quem Sylvian partilha a edição), Uncomon Deities é uma coleção de 12 poemas lidos, voz única de Sylvian conferindo às palavras um sentido de corpo que a música incidental que as acompanha depois ajuda a materializar. Apesar de afastado do gume central de uma demanda autoral – evocando na verdade ecos de experiências ambientais mais antigas - que vê em álbuns Blemish e Manafon dois importantes retratos de um espaço criativo ainda em construção, Uncomon Deities é uma experiência em paralelo que, mais que nos dar um novo episódio na história musical de um músico, nos dá antes conta de outros espaços e referencias de um mundo que nos tem dado alguns dos mais belos momentos da história dos últimos 30 anos de música.