Benjamin Biolay
“Vengeance”
Naïve / Popstock
3 / 5
Há uma herança maior cara aos músicos que, em língua francesa, procuram caminhos nos espaços da cultura pop/rock. Falamos naturalmente de Serge Gainsbourg que, pela versatilidade das linguagens, pelos temas que levantou ou mesmo pela carga incontornável de uma imagem que se fez icónica, é figura que ora ilumina ora assombra tantos que, querendo ou não, acabam por dar os passos no presente dos trilhos que ele outrora desbravou. Entre nós pouco conhecido, Arthur H é um dos mais evidentes herdeiros de Gainsbourg, o seu álbum de 1995 Adieu Tristesse sendo um dos melhores exemplos da assimilação dessa genética. Com obra mais divulgada por estes lados, Benjamin Biolay é outra voz habitualmente apontada a semelhante descendência, pela sua obra reconhecendo-se de facto muitas das marcas de indentidade (e de interesses) que inscreveram Gainsbourg no mapa das figuras maiores da história pop/rock (e arredores). A sua alma tem na tradição pop, na canção francesa e nas esferas rock mais clássicas a sua medula. Mas a sua voz nasce também de um interesse pelas heranças do r&b (sobretudo da escola Motown), o novo disco colocando-o ainda em patamares de diálogo com o hip hop e a memória da pop electrónica francesa dos oitentas, em espaços onde a sua também evidente relação com os espaços indie também deixa marcas. Essa memória pop mais colorida passa por L’Insigne Honneur, um dos temas do novo Vengeance onde Biolay visita ecos da tradição pop francesa, no single de avanço Aime Mon Amour aproximando-se por seu lado dos caminhos de um Etienne Daho (etapa Paris Ailleurs), figura de referência que ele mesmo visitou já num disco de tributo. Já em La Fin de La Fin ou nas duas versões (uma delas partilhada com Carl Barât) do tema-título, deixa claro o seu gosto por formas finais mais elaboradas, aqui contando com o tom maior de arranjos para orquestra... Um pouco antes, ao lado de Oxmo Puccino, aventura-se pelas periferias do hip hop em Belle Epoque... É assim, feita de uma rua central mas com muitas transversais, que vive o novo álbum de Benjamin Biolay. É um disco mais luminoso que outros que nos deu a conhecer antes e onde o escutamos em canções que, mais que seguir um rumo ou uma agenda, mostram antes um espírito tranquilo, atento ao mundo e com vontade de com ele comunicar por várias formas. Nem todas são de melhor colheita, mas em conjunto confirmam no músico uma das vozes da atual geração pop/rock francesa que vale a pena continuar a acompanhar.