quinta-feira, novembro 22, 2012

Discos Pe(r)didos:
Pete Namlook, Air 2


Pete Namlook 
“Air” 
Fax Records 
(1994)

Se é unânime o papel de Brian Eno no estabelecimento de uma noção de ‘música ambiente’ na sequência da edição de discos como Discrete Music (1975) ou o primeiro volume da série Music For Airports (1978), não tão claro parece ser o encontrar de uma face igualmente marcante no estabelecimento daqueles que foram os princípios para uma segunda revolução ‘ambiental’ que ganhou forma na alvorada dos anos 90. Podemos reconhecer como marcantes enquanto momentos que desafiaram princípios e lançaram novas questões discos como o histórico – mas hoje algo esquecido – Chill Out dos KLF (1990), a visão alargada de uma noção de criação de espaços e ambientes em The Orb’s Adventures Beyond The Ultraworld dos The Orb (álbum duplo de 1991) ou o máxi-single Pacific State, dos 808 State (1989), que antes dos The Orb, Orbital e outros mais, foi dos primeiros exemplos de design de uma sugestão chill out como que nascida de uma ressaca em clima house. Porém, ousaria apontar Pete Namlook como a “voz” maior da segunda revolução ambiente. Músico alemão – de seu nome real Pete Kuhlmann – tinha já integrado projetos e até mesmo participado em alguns discos nas periferias de espaços ambiente e new age nos anos 80. Na alvorada dos noventas partiu rumo a um interesse renovado pelo techno, atuando como DJ sob o nome Sequential. Mas é ao regressar aos discos – e funda a editora Fax para garantir as edições que então foram das primeiras apenas exclusivamente feitas em suporte de CD – que encontra não apenas um nome e um caminho como um lugar na história. Através de inúmeros lançamentos discográficos – alguns deles assinados em parcerias – Pete Namlook ajudou a definir novas expressões para uma identidade ambiente. E entre os títulos que contribuíram para o estabelecimento dessa marca estão os dois álbuns que, entre 1993 e 94 lançou sob o nome Air. O segundo volume deste díptico, lançado em 1994, sugere uma noção de viagem aludindo a um conceito que Frank Herbert havia explorado em Dune: a ideia de viajar sem movimento. Numa sucessão de 11 faixas a música progride no sentido de nos transportar por paisagens que se sucedem, umas emergindo após as outras, de um tronco central sequenciado brotando acontecimentos complementares (como efeitos, melodias ou sons particulares de certos instrumentos) que assim sugerem a visita a paisagens diferentes entre si. Sob distantes heranças estruturais que podemos encontrar em memórias motorik da Alemanha de 70 (nomeadamente os primeiros álbuns de uns Tangerine Dream), mais próximo das sugestões de um Chill Out dos KLF que do paisagismo papel-de-parede dos discos fundadores do género por Brian Eno, Air 2 tem para nós, portugueses, particular sabor quando, na nona viagem deste alinhamento de 11 o som de uma guitarra portuguesa estabelece, entrecruzado com electrónicas, um espaço de intrigante familiaridade. Na semana em que nos deixou, prestamos assim homenagem a um dos grandes criadores da história da música electrónica e das estéticas ambientais através de um disco que, quase 20 anos depois, tem agora o sabor de uma peça clássica.