Foi um antigo consultor da campanha de reeleição de George W Bush quem o disse no programa da ABC ‘Good Morning America’ na manhã que se seguiu à noite eleitoral que deu a vitória a Barack Obama, afirmando que o Partido Republicano se tinha transformado num partido de Mad Men numa América da era Modern Family... Não o podia ter descrito melhor, neste simples apontar de duas séries televisivas e dos modelos de sociedade e valores que cada uma reflete, traduzindo de forma clara o sério problema demográfico e social que o partido hoje enfrenta e que, entre várias justificações possíveis, será parte da explicação da derrota de Mitt Romney. Devendo aqui acrescentar-se que uma das maiores diferenças que encontramos entre as duas séries apontadas é o facto da ação de Mad Men decorrer na Nova Iorque dos anos 60 e a de Modern Family ser coisa dos nossos dias... Pois...
Vimos, pelos números que iam chegando ao longo da noite eleitoral, que as maiores concentrações de votos em Romney provinham essencialmente de homens, brancos, mais velhos e sobretudo em zonas rurais. Mais inclusiva (e bastou ouvir o discurso de Obama), a candidatura vitoriosa traduziu um relacionamento mais atento à demografia americana atual, chamando em força o voto negro e hispânico, dominando os centros urbanos e os mais jovens... A isto juntando um respeito maior pelo individuo na gestão das questões sociais. Como quando Joe Bide, no debate vice-presidencial, reconheceu que acredita que (falando do aborto) uma vida o é a partir do momento da concepção, mas que, ao contrário do opositor, não defende que deva obrigar todos os outros a aceitar as mesmas ideias, deixando a cada qual a liberdade de escolher por si, vincou bem claras as diferenças com as quais os eleitores depois se identificaram. E veja-se como as afirmações intolerantes e ignorantes sobre o aborto de dois candidatos republicanos a senadores valeram a vitória aos democratas nas respetivas eleições nos estados do Missouri e Indiana...
Foi também foi o mesmo Joe Biden quem em primeiro lugar apoiou o casamento entre pessoas do mesmo sexo, Obama seguindo-lhe o caminho. Ao contrário do aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo não foi assunto de campanha (nem de debates, como o havia sido em 2008). Entrou, como a série Modern Family, pela vida dos americanos. Tanto que houve estados que aproveitaram a eleição para referendar a sua legalização (dois com reslutados favoráveis, um contra e um a fechar contagem, mas a caminho de dar o “sim”)...
O Partido Republicano tem de parar para pensar sobre si mesmo. O extremismo do Tea Party pode ter dado resultados promissores nas mid-terms de 2010, mas resvalou agora, quando valores nacionais (como o são os que sustentam uma eleição presidencial) dão conta de ser uma outra América a que vai a votos. O modelo do ‘republicano’ conservador (mas não extremista) que Jeff Daniels protagoniza em Newsroom, perdeu nestes últimos anos uma voz no partido. E os resultados destas eleições dão que pensar...