R.E.M.
“Document”
I.R.S. / EMI Music
4 / 5
“Document”
I.R.S. / EMI Music
4 / 5
Não é por acaso que o belíssimo texto de David Daley que acompanha a edição comemorativa dos 25 anos de Document (o quinto álbum dos R.E.M., o derradeiro para a I.R.S. Records e o primeiro a dar-lhes visibilidade já no limiar das atenções da cultura mainstream) começa por contextualizar politicamente a era em que o disco nasceu. Recorda “casos” da administração Reagan (não é segredo que os R.E.M. sempre afinaram ideias pelo campo democrata) e traça o cenário que explica porque a angulosidade da obra da banda não se limitou então à música, mas também às palavras (atentas, críticas, interventivas). O momento político e a materialização de um olhar capaz de o comentar não são os únicos argumentos que explicam o ponto de viragem que o álbum então imprimiu na história de vida da banda. O disco anterior – Life’s Rich Pageant (1986) – tinha já mostrado sinais de busca por uma mais precisa orientação das demandas dos R.E.M., Document confirmando um empenhamento coletivo, a quatro, no aprofundar dessa mesma busca de um caminho mais claramente definido, menos feito de tentativas, mais de reflexões e ideias cimentadas. A entrada em cena do produtor Scott Litt (que acompanharia todos os discos seguintes, até New Adventures in Hi Fi) é aqui elemento determinante, semeando ideias que colheriam, com resultados ainda mais visíveis (leia-se o sucesso mainstream à escala global) poucos anos depois, em Out of Time. É curioso verificar que, contudo, muita da adesão ao que de novo os R.E.M. traziam em Document não passou necessariamente pela compreensão a fundo do que na realidade falavam. Se Michael Stipe confessa que a dada altura sentia que poderia estar a cantar e dançar para a juventude da era Reagan, por outro o single cartão-de-visita The One I Love deu-lhes a primeira visita ao top 10 americano com uma canção tomada como sendo uma dedicatória quando, na verdade, e como o vocalista expressaria mais tarde, é antes um olhar violento sobre as relações entre pessoas. 25 anos depois, numa altura em que um hino como It’s The End of The World as We Know It parece ter leitura atual (e não falo das profecias dos maias, mas do aparente colapso de todo um sistema económico e político), Document regressa num packaging graficamente apelativo, trazendo ainda como extra a gravação de um concerto de setembro de 1987.