terça-feira, outubro 02, 2012

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Paul Buchanan, Mid Air


Paul Buchanan 
“Mid Air” 
Newsroom Records 
4 / 5

Com sensibilidade e bom senso os Blue Nile assinaram curta mas intensa discografia. Apenas quatro álbuns entre A Walk Across The Rooftops (1984) e High (2004), entre os quais o inesquecível Hats (1989), uma obra-prima dos oitentas que tanto deve à cuidada escrita do trio de músicos, como à melancolia característica do canto de Paul Buchanan ou o saber na arrumação dos elementos cénicos conferida pela produção atenta e irrepreensível de Calum Malcolm. Oito anos depois de um álbum que traduzira (durante a sua criação) um afastamento entre os músicos, Paul Buchanan, agora com 56 anos, estreia-se a solo num disco que, sem surpresa, transporta algumas heranças naturais do trabalho com os Blue Nile. Mid Air não será, contudo, a expressão individual do quinto álbum que gostaria de ter gravado como conclusão da obra conjunta do trio que dele fez uma voz de culto. Mantém o clima ameno, os tons menores, a voz pausada, até mesmo conta com a presença do filho de Calum Malcolm na equipa técnica (como engenheiro de som)... Mas Mid Air é um depoimento pessoal, centrado num “eu” que carrega dúvidas e mágoas, que sabe do tempo que passou, que reflete a experiência da morte recente de alguém próximo, que encontra fôlego e ousa, a sós, a exposição. O piano ganha aqui protagonismo evidente, as curtas canções que fazem este alinhamento (de apenas 36 minutos) optando por um minimalismo de recursos adicionais, pontualmente as cordas ou sugestões de ambientes servindo de discreto pano de fundo. O foco está portanto nas palavras, na forma como dialogam com as linhas que o piano vai sugerindo, doseando os silêncios, sugerindo uma noção de espaço que envolve discreta, mas aconchegadamente, cada canção. Os ambientes são de lusco-fusco, a luz brilhando fugazmente no belíssimo instrumental dominado pelas cordas que escutamos em Fin de Siècle, já a caminho do final. Mid Air é coisa frágil, íntima, noturna. Pede atenção. Pede que nos libertemos do ritmo em nosso redor e mergulhemos nos lugares e tempos de que é feito. E mostra como com pouco se pode fazer muito.