The Killers
“Battle Born”
Island / Universal
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Quantas obras promissoras eram coisa constrangedora e inconsequente ao quarto álbum? Muitas... Alguns exemplos? Veja-se o caso de uns Spandau Ballet que, apenas quatro anos depois do viço pop anguloso (em clima new romantic) de Journeys To Glory, nos davam em Parade uma mão cheia de nada. Ou os Culture Club que, revelados no marcante Kissing To Be Clever (1982) mostravam em From Luxury To Hertache (1986) uma coleção de canções absolutamente desinteressantes. Ou uns Dead or Alive, cujo Nude (de 1989) pouco mais partilhava que o nome da banda e seus elementos quando comparado com as visões pop talhadas a electro funk e hi-nrg da estreia de Sophisticated Boom Boom, de 1983... Estamos propositadamente a falar de bandas com perfil mainstream mas de génese em espaços algo... alternativos. E todas elas nascidas do fulgor new wave, o mesmo que, redescoberto na alvorada do novo milénio, animou a música dos The Killers que, em Hot Fuss (2004) mostravam ser dos primeiros a encontrar em ecos dessa mesma new wave as formas, tons e cores para canções capazes de estabelecer diálogos entre as electrónicas e as guitarras e entendimentos entre o apelo melodista da canção pop e os desafios dos grandes estádios (que desde logo se adivinhavam no horizonte). Cedo dividiram opiniões, certo sendo que Hot Fuss ficou mesmo na história dos feitos pop dos anos zero (nem que pela forma como, antes de tantos outros, redescobriu uma forma de fazer pop que ecoava feitos de inícios dos oitentas). Quiseram ser mais “americanos” no relativamente decepcionante Sam’s Town (2006), procuraram retomar as linhas primordiais do primeiro disco em Day & Age (2008). E agora, depois de uma medíocre estreia a solo do vocalista Brandon Flowers, chegados a Battle Born são banda com o norte perdido... Sem querer abdicar da relação com as electrónicas, mas procurando ao mesmo tempo um reencontro com uma dimensão americana à la Springsteen, as faixas que se sucedem no alinhamento são uma entediante repetição de modelos de produção grandiosa (e tecnicamente competente, é certo) mas para a qual faltam... canções. Som e mais som. Sempre a subir, sempre a crescer, voz e acompanhamento instrumental a trepar escada acima em busca de um clímax que, na verdade, já ficou uns andares abaixo. Mas continuamos a subir... Divididos entre o seu próprio passado (que visitam de certa forma em Flesh and Bone, embora com tempero Alphaville) e uma encruzilhada de caminhos (dúvida que se materializa na multidão de produtores convocados, de Daniel Lanois a Steve Lillywhite, de Stuart Price a Damian Taylor), os Killers de 2012 são uma banda que quer manter ecos da sua genética indie e não quer abdicar do estatuto que as digressões por estádios já lhes deu, mas que na verdade não sabe bem para onde quer ir. O público mais dado a coisa indie (que mesmo assim não os acolheu com unanimidade nos primeiros tempos) vê-os como coisa uncool. Mas ao mesmo tempo fica claro que aqui não temos disco (nem banda) à altura de uns U2... Destinado a uma terra de ninguém, talvez colhendo ainda os entusiasmos do público mainstream aprofundados pelo disco anterior, Battle Born é pálido eco das potencialidades que os The Killers em tempo mostraram. Na remistura de Jacques Lu Cont para Flesh and Bone (servido como bónus) mostram a melhor das ideias aqui registadas. Já nos dias de Sam’s Town conheceram um dos seus melhores momentos quando chamaram os Pet Shop Boys para os remisturar. Não conseguirão ver que, mesmo sem repetir glórias passadas, aqui ao menos havia um caminho?...