Esta é a transcrição (editada para 2012) de uma entrevista originalmente publicada nas páginas do suplemento DNmais em 2002.
Como é que reagiu perante o surto de interesse pela sua música que surgiu mais de 20 anos depois dos grandes momentos de sucesso que então viveu?
Sabe bem e é um fenómeno que me deixa muito feliz, naturalmente. O único problema é que muito deste reconhecimento vem por coisas que já fiz há muito tempo... Se a música que estou hoje a fazer não estivesse também a merecer qualquer reconhecimento certamente sentir-me-ia estranho. Neste momento tenho um novo single na tabela de vendas [esta entrevista tem dez anos] e as velhas canções a merecer estatuto de "influentes"... Essas realidades em conjunto são muito positivas, e acabam por alimentar-se mutuamente.
Mas não deixa de ser estranho ouvir, na rádio, o single das Sugarbabes [Freak Like Me], que é bem actual, mas na verdade, não esconde, descaradamente, o 'Are Friends Electric', de 1979...
Sim, é uma situação daquelas em que temos de explicar que se trata de uma velha canção que foi usada de novo. É difícil tirar dela algum reconhecimento, desta forma... Mas gosto que se saiba que tenho orgulho dessa canção, que tem quase 25 anos. Mas é uma situação estranha... Sobretudo porque não quero usar qualquer coisa minha que tenha tido sucesso no passado como arma para usar no presente. O meu presente deve ser justificado pelo que tenho feito nos últimos tempos. Seria, contudo, um idiota se não tentasse aproveitar o que de positivo essa situação levanta. Mas é difícil tirar uma só conclusão do sucesso dessa adaptação das Sugarbabes. Mas também é difícil manter uma carreira de sucesso. E todas as situações que se desenhem, desde que não lesivas, devem ser aproveitadas. Eu tento evitar toda a espécie de ligação a revivalismos dos anos 80. Há, no Reino Unido, muitas bandas dos anos. 80 que se juntam para umas digressões retro ou nostálgicas. Eu não faço concertos de greatest hits, não apareço em programas de nostalgia...
Mas toca ainda temas dos dias de Replicas ou Pleasure Principle nos seus concertos...
Toco apenas alguns temas. E faço-o pelo dever e responsabilidade que sinto para com os meus fãs, especialmente os que estão comigo há muito tempo. Eles gostam muito do material antigo, por isso sinto a obrigação de lhes ser fiel, tocando canções de várias etapas da minha carreira. Em média, toco um quarto de temas antigos por concerto. Mas o ênfase das actuações está sempre centrado em material recente, até mesmo em primeira mão, se ainda o não toquei...
Há muitas famílias estéticas contemporâneas que o veneram. A escola rock, com nomes como os Nine Inch Nails, Marilyn Manson ou Deadsy, não escondem referências. Depois houve o electroclash... Com que escolas se identifica mais?
Não me identifico com o electroclash de modo algum. Além dessas duas famílias creio que há ainda uma terceira, a de projectos mais ligados , à cena "dance", como o Armand Van Helden, Junkie XL... Até mesmo o Afrika Bambaataa disse-me que em tempos o meu som lhe foi fundamental. Curiosamente, na última semana recebi cinco pedidos de autorização de projectos de hip hop para usarem o Cars e outras coisas desse mesmo período... Mas de todas as famílias de bandas que me apontam corno referência, a única com a qual me identifico é a do rock industrial. É a música de que mais gosto e, de certa forma, é para aí que a minha própria música caminha.
Tem gostado das versões que grupos como os Nine Inch Nails, entre outros nomes de peso do rock industrial, têm feito de temas seus?
Gosto muito das versões dos Nine Inch Nails, dos Fear Factory e a dos Marilyn Manson. Achei também muito interessante a dos Foo Fighters... Mas de todos esses grupos, o meu preferido são os Nine Inch Nails. De resto, são o meu grupo preferido hoje em dia, e vê-los a fazer uma versão de um tema meu foi um dos momentos de que mais me orgulhei em toda a minha carreira. E fico também muito satisfeito por a minha música significar tanto para gente que não é apenas a gente da electrónica . As Sugarbabes são um projecto de R&B. E tive. já versões pelo Damon Albarn ou pelos Moloko... No fundo, ser apontado corno "influente" é cool. E ver esse reconhecimento a chegar de vários lados é ainda mais compensador.