Uma nova edição da Winged Lion, de Paul McCreesh, A Song of Farewell junta obras que cruzam vários autores de épocas distintas.
Tal como temos visto com outros grandes nomes de proa do panorama atual da música clássica – como John Eliot Gardiner, Ton Koopman, Philippe Herreweghe, orquestras como a London Symphony Orchestra, a Chicago Symphony Orchestra e a Orquestra do teatro Marinsky em S. Petesburgo ou até mesmo compositores como Philip Glass ou Michael Nyman – também Paul McCreesh (recentemente nomeado para tomar, em julho de 2013, o lugar de maestro residente da Orquestra Gulbankian) criou a sua própria editora. Chamou-lhe Winged Lion, nela tendo apresentado em 2011 uma sublime gravação da Grande Messe des Morts de Berlioz. Em 2012 a editora lançou já dois novos títulos. Num deles recria os ambientes de uma coroação veneziana em 1595. No outro, tomando mais de perto o clima e as sugestões da estreia de 2011, propõe um olhar sobre peças vocais destinadas a serviços fúnebres. Chamou-lhe A Song of Farewell - Music of Mourning and Consolation e, revelando mais um notável trabalho interpretativo do Gabrielli Consort (o grupo que o maestro fundou há 30 anos), é tão simplesmente um dos melhores registos de música vocal que ouvimos em 2012 (e, já que caminhamos para o final do ano, um dos mais sérios candidatos a figurar nas listas dos títulos de referência que a música clássica levou a disco nestes 12 meses).
A ideia que conduz a criação deste retrato segue mais um impulso temático e um destino emocional que a procura de um foco de época ou de forma.
O “programa”, como o próprio McCreesh explica na entrevista que podemos ler no booklet que acomopanha a edição, nasceu de um ponto focal que o maestro localiza no Requiem de Herbert Howell (1857-1934). Em seu redor juntaram-se outras obras de outros tempos, aos cantores e à sequência encontrada cabendo o papel de estabelecer as pontes e ligações. Aqui ouvimos peças de nomes que ora nos transportam a tempos mais distantes – como John Sheppard (1515-1550) ou Robert White (1538-1574) – ora respiram o ar dos nossos dias – como James McMillan (n. 1959) ou Jonathan Dove (n. 1959). Há uma lógica de permanente diálogo entre épocas, as referências recuperadas do passado cruzando-se uma a uma com peças contemporâneas, do “canto” entregue às vozes do Gabrielli Consort surgindo um conjunto que se destaca assim das fronteiras de época para, no fundo, reconhecer antes uma qualidade mais emotiva que traduz a forma como a morte e a noção de despedida são uma das verdades centrais da existência e uma mais constantes presenças na criação musical (e artística em geral).