Começa bem. Muito bem, mesmo, a temporada 2012/13 da Gulbenkian. Não só com uma espantosa exibição do Coro e Orquestra Gulbenkian na Missa em Si menor, BWV 232 de Johann Sebastian Bach (já lá regressaremos) como por uma das grandes ideias que vão acompanhar os concertos que temos pela frente. É que, folheando o programa que acompanha o concerto, deparamo-nos com uma primeira mão-cheia de “Breves Notas Sobre Música”. São pequenos textos de Gonçalo M Tavares que, tal e qual o fizeram para os espaços do cinema as narrativas “curtas” que apresentou recentemente em Short Movies, sugerem ideias, sensações e reflexões que sabem bem escutar. Esperando muitos de nós, ter um dia as mesmas “orelhas longas” com que na China Antiga alguns “sabiam ouvir” (como nos conta a ‘Definição de Música’ que lemos neste primeiro conjunto de textos que acompanharão a temporada).
Da Missa de Bach, uma obra tardia que nasceu em grande parte da recuperação de material antigo e da composição de alguma nova música (conhecendo na verdade apenas estreia nesta forma “grandiosa” em que a conhecemos em 1859, mais de cem anos depois da morte do compositor), podemos apenas dizer que foi (mais uma) expressão do momento de grande forma que a orquestra e o coro nos têm mostrado nas recentes temporadas. Sob direção de John Nelson, que fez notar os contrastes entre a exultante presença do conjunto orquestra/coro e os momentos de maior intimidade dos vários instrumentistas nas respetivas contribuições como solistas, e, contando na presença da soprano Johanette Zomer como a mais clara e presente das quatro vozes convidadas, a sala (com palco destapado para o jardim e uma plateia que cruzava gerações) viveu vibrante noite programa inaugural da temporada. Confesso que, perante o absolutamente assombroso Cruxifixus etiam pro nobis dava por mim a pensar: o que vai Paul McCreesh (que tomará o lugar de maestro titular da Orquestra Gulbenkian em julho de 2013) gostar de trabalhar com estes músicos!