sexta-feira, setembro 14, 2012

Reedições:
Van Dyke Parks, Song Cycle


Van Dyke Parks 
“Song Cycle” 
Bella Union
4 / 5

Diz quem o viu num concerto recente que Van Dyke Parks saudou os presentes falando de uma celebração do anonimato e que, citando Faulkner, terá referido a “autoridade do fracasso”. É verdade que Van Dyke Parks não é um nome daqueles que moram nas rádios que fazem da superficialidade da nostalgia o seu modo de vida. Mas anónimo?... Bastaria citar a sua parceria com Brian Wilson como letrista no mítico Smile dos Beach Boys (que finalmente conheceu a luz do dia) para lhe garantirmos um lugar na história da música popular. Mas trabalhou ainda com Rufus Wainwright, Joanna Newsom, Frank Zappa, Ry Cooder ou Ringo Starr… Anónimo não parece o termo mais adequado para o descrever. E se evocarmos alguns dos seus discos – sobretudo aqueles que editou entre finais dos anos 60 e a década de 70 – teremos de reconhecer uma força criativa visionária que, mesmo sem o sucesso imediato por perto, acabaria por se transformar numa referência e gerar mesmo descendência. Vale portanto a presente reedição para apagar a noção de anonimato ao seu redor. Song Cycle, o álbum com que se estreou em nome próprio em janeiro de 1968 surge depois do fracasso das sessões de Smile e herda diretamente uma certa visão caleidoscópica da escrita de canções que terá passado pelo trabalho ao lado de Brian Wilson. Cruza folk, heranças da música para teatro, cita aquela que se crê ter sido a última obra interpretada pela banda do Titanic, já no convés do navio, experimenta cenografias barrocas, explora a presença de uma orquestra. Em suma, olha bem para lá dos paradigmas habituais, propondo um ciclo de canções diferentes, acrescentando-lhes formas e cores menos frequentes, as palavras focando cenas da vida de Los Angeles, de artistas e de todo esse mundo ao seu redor, uma certa melancolia (que a voz também sugere) acabando por desenhar contrastes com as formas que constroem as canções. O disco terá sido certamente um "ser" bizarro naqueles dias, mas o tempo dele fez um justificado fenómeno de culto. Tudo menos coisa de um anónimo, portanto.