A Sinfonia Nº 5 e a suite O Ano 1941, de Prokofiev, em gravação pela Orquestra Sinfónica de São Paulo, dirigida por Marin Alsop.
Num estado que domina a vida de tudo e todos, inclusivamente a de quem cria arte, o tempão pode fazer silêncio sobre o que decide não mostrar. Mas não apaga as vozes que resolve calar. Por isso, apesar de silenciada durante anos a fio pelo regime soviético, impedida de ser apresentada e gravada, e gravada, a suite sinfónica O Ano 1941, de Sergei Prokofiev é hoje propriedade intelectual da humanidade.
Recuemos no tempo. Em 1941, perante o avanço das tropas alemãs, muitos artistas foram levados para zonas mais distantes da frente. Prokofiev foi um dos muitos que por um tempo encontrou nova casa no Cáucaso, onde cria uma suite onde sugere um retrato daqueles tempos. Peça relativamente curta, em três andamentos, sugerindo um lirismo que chamou algumas críticas (nomeadamente do compatriota Shostakovich, que pela mesma altura trabalhava na Sinfonia Nº 7 que, com outro fulgor, retrata o mesmo tempo, mas segundo um ponto de vista de resistência, numa Leningrado cercada e assombrada pelo medo, a escassez de recursos e o isolamento). Acusada de formalismo, como tantas obras de tantos outros compositores da época por um sistema que via a arte como elemento de um processo político, a suite viveu silenciada, o que não impediu o tempo de a recuperar. Prokofiev, que morreu em 1953 no mesmo dia em que Estaline, não conheceu já o levantar de algumas amarras, mas hoje esta e tantas outras obras são peças que se juntam no retrato de uma obra que reconhecemos ser central na música do século XX.
A maestrina Marin Alsop grava esta suite com a Orquestra de São Paulo, no ano em que se estreia como sua dirigente principal. E para completar o alinhamento junta a magnífica Sinfonia Nº 5 do mesmo compositor, composta ainda em tempo de guerra e estreada em 1944 no Conservatório de Moscovo.