Matthew Dear
“Beams”
Ghostly International
4 / 5
Foi ao som de Asa Breed (editado em 2007) que e cativou finalmente as atenções. Já tinha obra anterior, quer em nome próprio quer via projetos como Audion, Jabberjaw ou False... Mas foi Asa Breed que fez, de facto, a diferença, propondo um espaço de encontro entre electrónicas e dinâmicas assimiladas da música de dança (e de uma vivência por Detroit, afinal a “maternidade” do techno) e uma alma interessada numa ideia de música mais sombria, mesmo assombrada, que transporta ecos de visões que ajudaram a definir caminhos novos para a definição de outros patamares de desencanto na música urbana entre os finais dos anos 70 e inícios dos 80. Black City, de 2010, levou estas mesmas ideias a um patamar conceptual criando, pela música, os espaços e narrativas de uma cidade tão estranha e assustadora quanto intrigante quanto a que Andrerw Niccol pincelou nas imagens do filme Dark City. Dois anos depois Beams alarga os horizontes através de uma ainda mais evidente vontade em explorar as formas da canção, num alinhamento que divide as ideias em dois grupos distintos mas que, mais que nunca (e apesar dos cantos de culpa e mágoa que ainda povoam alguns instantes) revelam um espírito em busca da luz. Em parte do alinhamento, escutando mais os ecos de uns Talking Heads ou mesmo a lógica de uns A Certain Ratio (em Earthforms piscando mesmo o olho a memórias dos primeiros tempos de uns The Cure), a música procura assimilar heranças funk numa matriz onde as electrónicas definem as linhas primordiais. Dança-se, é certo, mas sob uma tensão evidente, a voz monocromática de Matthew Dear encenando um desalento que abafa uma eventual pulsão festiva. De resto, quando nos canta que a luta é coisa fútil sob contagiante estrutura rítmica que apela ao movimento, desenha-se um jogo de contrastes que sublinha o conflito interno que, como se fosse uma narrativa, o avançar do alinhamento do álbum ajudará a resolver. É que sucede mais adiante num segundo grupo de canções que se definem sobretudo a partir de Ahead of Myself. Estamos aí mais perto do suave e cativante melodismo pop de um Brian Eno, com ele Matthew Dear abrindo as janelas e deixando entrar uma luminosidade diferente que quase exorciza a tensão que dominara grande parte da primeira metade do disco. O alinhamento abre com essa magnífica pérola pop que se chama Her Fantasy (que teve belíssimo teledisco, citando momentos da obra de Kenneth Anger). Conquista a atenção. Mergulha-nos depois num percurso que, se traduzir de facto o era-uma-vez dos tempos mais recentes da vida do músico, dá conta do caminho de chegada a um patamar menos opressivo que o que sugerira nos discos anteriores. A segunda metade do alinhamento pode também indiciar rotas pop a seguir num futuro próximo. Mas isto são suposições de quem ouve e gosta do que está a ouvir.