Lauer
“Phillips”
Running Back
4 / 5
A ideia da reinvenção mora de raiz firme em todas as etapas da história da música popular. E quantas vezes é desses novos olhares sobre memórias que nascem outras formas de entender o que fazemos?... Haveria o álbum de estreia dos De La Soul sem um saber eclético entre heranças várias, da soul ao jazz? Ou o space disco de um Lindstrom sem as memórias do hi-nrg e suas periferias?... Está na hora de, 25 anos depois dos sabores refrescantes que, de Chicago, chegaram ao mundo no verão de 1987, voltar a reencontrar os valores primordiais da cultura house e das suas imediatas descendências. E nada como o primeiro álbum do alemão Philip Lauer para colocar os ingredientes na mesa... Tivesse caído nas graças certas ou morasse numa daquelas editoras com “carimbo de qualidade” (é piada) que chamam logo a atenção de quem escreve e divulga música, e seria um caso sério... Até agora, contudo, Phillips passou a leste das atenções. Triste sorte para um disco que, com outra visibilidade, teria tudo para cativar atenções para memórias da house de meados dos oitentas e outras variações então vividas logo depois em clima hedonista (nomeadamente os festivos ballearic ou italo house, que chegaram a estas praias entre 1988 e 89). Enfim... A verdade é que, após mais de dez anos a editar máxis, a estreia de Phillip Lauer merece morar ao lado do álbum editado há meses por John Talabot entre os grandes momentos que os espaços da "música de dança" nos deram já este ano. A house está aqui no centro das atenções, mas partilha protagonismo com memórias electrónicas que passam também por ecos da new wave, pontuais heranças do electro de primeira geração e, depois, alguns temperos kitsch (como os que em 70000 ac e, sobretudo, o garrido Miamisync, evocam o estilo de trabalho com sintetizadores em departamento “piroso” que Jan Hammer imortalizou no tema que compôs para a banda sonora da série Miami Vice - e que era horrendo, confesso). Sem um programa narrativo nem mesmo cénico, Phillips é uma simples coleção de propostas de projeção, no tempo presente, de um quadro de ideias que abriu caminho a uma importante revolução que, há 25 anos, mudou a forma como o mundo passou a lidar com a música de dança. Não é um depoimento tão inspirado (e talvez inspirador) quanto o foi o fulcral It’s a Feedelity Affair (2006) de Lindstrom, que levou muito boa gente a (re)descobrir Patrick Cowley e outros seus contemporâneos. Mas do apelo futurista (para teclados analógicos) de Sandalscene aos sabores house de colheita vintage do magnífico Coppers, há por aqui momentos suficientes para (re)despertar um interesse por referências que, como tantas outras, antes e depois, foram e continuarão a ser matéria prima e adubo para novas (re)invenções.