David Byrne + St. Vincent
“Love This Giant”
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4 / 5
A sugestão inicial partiu de um promotor de concertos que juntara num mesmo palco Björk e os Dirty Projectors por alturas da promoção do álbum Dark Was The Night, que recolhia fundos para as campanhas de luta contra a sida da Red + Hot Organization. Juntar David Byrne e St. Vincent... Porque não? E foi Annie Clark quem ditou o mote: trabalhar com metais... Durante três anos, com ideias a andar para cá e para lá através da Internet, ocasionalmente juntando-se em estúdio, as 12 canções que agora escutamos reunidas num mesmo álbum foram ganhando forma. E juntas fazem um disco que, mesmo sem aceitar uma lógica conceptual temática que agregue o ciclo de 12 composições, Love This Giant revela todavia todas as características de um corpo uno e seguro. Por um lado o protagonismo que os arranjos para metais revelam confere ao corpo de canções esse mesmo sentido de unidade. Por outro, houve uma ideia visual (que ganhou forma do trabalho gráfico). Trata-se de uma projeção da memória do conto A Bela e o Monstro, a “bela” aqui representada por David Byrne, o “monstro” vestido por Annie Clark. É, contudo, sem um rumo temático central que o ciclo de canções avança, pelas características do som encontrando uma identidade e um caminho. Há espaços para a afirmação das personalidades dos dois músicos, St Vincent mais evidente (e sem o protagonismo habitual das suas guitarras) em instantes como Ice Age (da sua autoria), Byrne mais claro em temas como The One Who Broke Your Heart ou Outside Space & Time (esta também apenas escrita por si). Pelo caminho há diálogos e sinais de interesse por outras formas. Os instantes iniciais de I Am An Ape poderiam piscar o olho a um Philip Glass e os arranjos de I Should Watch TV não seriam elemento estranho na música de um John Adams. E frequentemente sentimos aqui ecos de uma experiência antiga (também ela essencialmente feita com metais) no álbum de 1985 Music For The Knee Plays, com as contribuições de Byrne para a ópera Civil Wars de Robert Wilson. Na verdade, Love This Giant é um pouco o filho pop dessa experiência algo esquecida (apesar de reeditada em 2007). É música que se estranha num primeiro impacte. Que pede tempo e o estabelecimento de familiaridade. Para, depois, aos poucos, revelar um mundo de diálogos repletos de pequenos detalhes, de linhas que fluem afinal com a simplicidade e luminosidade da escrita pop.