quarta-feira, setembro 26, 2012

Novas edições:
Cat Power, Sun


Cat Power 
“Sun” 
Matador  Records
4 / 5

Foi longa a espera. Seis anos, pelo caminho um álbum de versões – Jukebox, em 2008. E na altura de acolher a chegada do sucessor de The Greatest sentimos aquele entusiasmo que muitas vezes nos leva a dizer que a espera foi compensada. Porque, para dizer a coisa em poucas palavras, Sun é uma deliciosa surpresa. A sua gestação não foi fácil (de resto, a longa pausa deixa claro que a espera não aconteceu por acaso)… A história de Sun começa pouco depois do lançamento de The Greatest, num cenário de crise financeira pessoal, que levou Cat Power (ou seja, Chan Marshall) a levantar o seu fundo para a reforma, o que lhe permitiu construir um estúdio ao lado da sua casa, em Malibu. De uma primeira etapa de escrita da qual acabou com uma mão-cheia de canções melancólicas para voz e guitarra passou a nova fase, longe dali, apenas com eletrónicas por ferramentas de trabalho. O tempo passou… Houve dramas pessoais pelo caminho. Até que da reunião com a sua banda de estrada surgiu novo fôlego. E, ao que parece, o espaço de diálogo entre eletrónicas e os espaços mais próximos de heranças da folk e vivências da cultura pop/rock que eventualmente a terão conduzido ao terreno do qual nasceram as onze canções que fazem agora o alinhamento de Sun. A música revela desafios bem resolvidos – as eletrónicas são assimiladas segundo uma linguagem pessoal, tornadas pragmatismo ao serviço de canções sem evidentes citações nem colagens a modelos de referência – e espelha uma vitória sobre as sequelas de uma separação e de um bloqueio que se lhe seguiu (uma das explicações para tão extenso silêncio). Manhattan é um belíssimo exemplo de uma escrita que sabe integrar sugestões escutadas numa batida house, despidas contudo a uma existência quase subliminar, as notas repetidas pelo piano marcando ciclos em loop sobre os quais a voz e as percussões desenham uma canção que, como tantas outras deste disco, sugerem o prazer da descoberta de novas formas (tanto para quem as fez como para quem agora as escuta). Com a ajuda de Philippe Zdar (dos Cassius) nas misturas, Sun é um magnífico exemplo de cómo uma lógica cantautoral pode, sem esquecer as suas fundações folk e rock, caminhar pelos trilhos de um século XXI que toma as eletrónicas como importante e consequente ferramenta. Não enquanto instrumentos polidos em favor de linhas e cenografias asséticas, mas antes como parte de um todo onde não faltam arestas e rugosidades, a tensão da eletricidade, das texturas por vezes abrasivas e percussões auxiliando a voz em canções emocionalmente pungentes, contando com a soberba colaboração de Iggy Pop na extensa e catártica Nothin But Time. Valeu a espera, sim senhor.