Recentemente divulgada na Internet, a montagem de imagens que acompanha a canção Nobody Knows Me nos concertos da MDNA Tour merece entrar para a galeria dos mais espantosos telediscos de Madonna. Convém recordar que esta é a canção, do álbum American Life (2003), em que Madonna canta uma assumida reclusão existencial:
I don't want no lies
I don't watch TV
I don't waste my time
Won't read a magazine
Mais do que isso: expondo-se na teatralidade das suas muitas identidades de palco (físico ou virtual), Madonna canta a ambivalência radical da pose — quanto mais avança no artifício da ficção, mais reconhece a proximidade, porventura a equivalência, entre a fruição da pluralidade da vida e a disponibilidade para olhar a nitidez da morte.
I've had so many lives
Since I was a child
And I realize
How many times I've died
Nas imagens de Nobody Knows Me descobrimos, assim, a celebração do ser, não como a expressão de um BI previamente definido, antes como um jogo (sempre em aberto) com as identidades, as imagens e os discursos dos outros. A máxima da canção — "ninguém me conhece" — consagra uma forma primitiva de solidão que, esteticamente, aceita ser devorada pelos outros. É também uma dádiva que convoca sempre o mais difícil: a solidão de cada espectador.