É verdade que todos os domínios profissionais (da política ao cinema, passando pela carpintaria ou a cultura da beterraba...) possuem linguagens específicas que, inevitavelmente, geram cruzamentos, cumplicidades e coincidências. O certo é que o futebol consegue, todos os dias, surpreender-nos pela eufórica transformação do específico em cliché, e do cliché em lugar-comum. A ponto de, no mesmo dia, dois jornais (O Jogo e Record) fazerem as respectivas manchetes a partir desse prodígio de imaginação que é classificar um jogador de... "abre-latas"!
Ironicamente, poderíamos lembrar que Varela (mérito dele, sem dúvida) estava apenas no sítio para onde ressaltou uma bola perdida... Mas não creio que este universo esteja muito aberto aos sabores da ironia. Nem é uma questão de interpretação de um lance de futebol que está em causa. É, isso sim, o espaço asfixiante da própria criatividade discursiva. E o facto de falarmos e pensarmos a partir dessa asfixia.