Young Disciples
“Road To Freedom”
Talkin’ Loud
(1991)
Pode um disco que ajudou a definir uma época acabar relativamente “esquecido” menos de 20 anos depois. A resposta é um desencantado sim e podemos tomar Road to Freedom, o único álbum da discografia dos Young Disciples, como exemplo. Nascidos quando a cantora norte-americana Carleen Anderson se mudou de armas e bagagens (mais o seu filho) para Londres, onde encontrou Marc Nelson e Femi Williams, os Young Disciples foram não só um dos primeiros rostos do catálogo da editora (gerida por Giles Peterson) Talkin’ Loud, como representaram o caso que conciliou de forma mais plena (e satisfatória) a confluência dos caminhos que então circulavam em torno dos caminhos do acid jazz, somando importantes contribuições dos universos do hip hop, da soul e heranças soul funk que fizeram do seu álbum um paradigma de absoluta referência do movimento que então neles reconheceu uma voz maior. Com raízes underground (e de certa forma uma pré-história entre os terrenos da cultura rare groove e outras periferias do jazz), o movimento acid jazz emergiu com considerável visibilidade na Inglaterra de inícios dos anos 90, em grande num panorama que muito deveu a um focar dos interesses de um público mais vasto pelos espaços da música soul, suas genéticas e descendências, fruto do impacte do álbum de estreia dos Soul II Soul em 1989. Ao mesmo tempo uma maior visibilidade do hip hop (que, sobretudo depois dos De La Soul, revelava outras formas de relação com heranças várias da música negra) contribuía para a construção de novos cenários e desafios, o jazz hip hop sendo de resto uma outra consequência das mesmas heranças que geraram o acid jazz. Ao contrário de uns Galliano ou K-Creative (estes últimos integrariam pouco depois o catálogo da mesma editora), os Young Disciples não fechavam os seus horizontes de ação nos espaços do jazz hip hop e suas cercanias. Ao mesmo tempo, não limitavam a sua música aos terrenos próximos da soul (como o fazia o companheiro de etiqueta Omar) nem expressavam o mesmo interesse focado em heranças soul disco e soul jazz de uns Incognito. De vistas largas, “ecuménicos” na sua maneira de conciliar várias linguagens, os Young Disciples fizeram de Road To Freedom o ponto de entendimento que somou experiências, assimilou ideias e gerou o disco que definiu, melhor que qualquer outro então, a essência do qie estava a acontecer naquele tempo e naquele lugar. Revelados sob a arquitetura hip hop de um Get Yourself Together, consagrados com a visão soul contemporânea de um Apparenty Nothing e com momento maior da sua visão panorâmica sobre os acontecimentos na belíssima Freedom Suite, os Young Disciples são o nome mais recomendável para quem, quase 20 anos depois, quiser começar a (re)descobrir aquele momento em que o jazz redescobriu os caminhos de contacto com as pistas de dança e um público mais habituado aos domínios da cultura pop. Depois, numa segunda etapa, nada como avançar por nomes como os Brand New Heavies, Urban Species, os já referidos Galliano e Incognito, United Future Organization, casos mais próximos do jazz hip hop como os US 3, Guru ou Ronny Jordan ou ainda indispensável expressão japonesa do fenómeno, de um Nobukazu Takemura a uns Silent Poets. Acreditem que há aqui muita música à espera de nova oportunidade para vibrar.
E depois do disco
Os Young Disciples, apesar do impacte do álbum e do sucesso comercial dos singles dele extraídos, extinguiram-se enquanto banda quando, em 1992, Carleen Anderson abandonou o trio para encetar uma carreira em nome próprio. Marc e Femi mantiveram ativo o nome, apenas enquanto dupla de produtores, essencialmente em trabalhos de remistura.