quinta-feira, setembro 13, 2012

Discos Pe(r)didos:
Shara Nelson, What Silence Knows

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Shara Nelson 
“What Silence Knows” 
Cooltempo 
(1993)
Muitos descobrimo-la quando, em 1990, deu voz a Daydreaming, o single que então nos apresentava os Massive Attack, alguns meses depois, já em 1991 encontrando-a em mais momentos do álbum de estreia do (então) trio de Bristol, entre os quais o tema Unfinished Sympathy, que foi o segundo single do grupo. Mas Shara Nelson tinha já, por essa altura, quase dez anos de trabalho na música. Tinha já editado singles a solo nos anos 80 e para os finais da década colaborava regularmente com o coletivo Wild Bunch (do qual nasceriam os Massive Attack). A visibilidade conquistada em Blue Lines valeu-lhe o relançamento de uma carreira em nome próprio que ganharia forma em What Silence Knows, álbum que a Cooltempo edita no mesmo ano em que os Massive Attack apresentavam um segundo álbum onde o protagonismo vocal cabia agora a Tracey Thorn (dos Everything But The Girl). Apesar de pontuais ligações a um espaço com familiaridade com heranças da cultura hip hop que caracterizaram a sua vivência pós-Wild Bunch (como se pode escutar em Nobody, que abre o alinhamento), e de contar mesmo com colaborações na composição de alguns temas de Prince Be, dos PM Dawn (que assina três das dez canções), o álbum de estreia de Shara Nelson é essencialmente um disco que procura recuperar um sentido pop de abordar a soul, um pouco como o faziam alguns nomes de referência da Motown nos anos 60. Entre os colaboradores nota-se a presença evidente do saber pop de Bob Stanley e Pete Wiggs, dos St Etienne, que partilham com Shara Nelson a autoria de One Goodbye in Ten, um tema mid tempo de travo clássico que representa, juntamente com pérolas de personalidade luminosa como Down That Road ou Uptight, o melhor do alinhamento de um disco onde arranjos para orquestra e novas ferramentas então em voga na cultura soul pós Soul II Soul se juntam para criar os cenários onde a evidente protagonista é a voz potente e expressiva da cantora. Com alguma visibilidade (quatro dos cinco singles extraídos do álbum marcaram presença no top 30 britânico) na época, What Silence Knows acabou contudo por ficar esquecido na memória de inícios dos anos 90. Talvez este ano, que aguarda a chegada de um terceiro álbum a solo da cantora após longa ausência, o disco volte a cativar atenções. Não é uma obra prima nem mesmo uma pérola maior do seu tempo. Mas pelo alinhamento moram canções que não mereciam estar tão abandonadas...