I. Quanto vale um blockbuster? Nada que se possa deduzir apenas do facto de ser um... blockbuster. Tudo começou com o admirável Jaws/Tubarão (1975), de Steven Spielberg, de facto o filme que inaugura a idade moderna dos blockbusters, caracterizada por lançamentos cada vez mais amplos (hoje em dia, planetários) e uma acentuada aceleração das regras de rentabilização de cada título (ou de cada produto, como diz a gíria pouco imaginativa dos profissionais do marketing). Depois, os filmes poderão ser "bons" ou "maus", mas importa dizer que nenhum deles se pode medir apenas pelos números das respectivas performances nas bilheteiras.
II. Infelizmente, isso acontece com frequência, graças à acção de um jornalismo (?) bloqueado numa visão banalmente economicista: um filme torna-se "importante" à força de arrastar muitos milhões de dólares... Escusado será dizer que nenhum filme é mais (ou menos) interessante por envolver muitos (ou poucos) milhões. O certo é que aquela visão acaba por simplificar de forma abusiva a inevitável complexidade da vida económica dos filmes — na certeza de que tal dimensão não é estranha à vida cultural dos mesmos filmes, marcando de forma decisiva a sua difusão e percepção.
III. Por tudo isso, vale a pena sublinhar que um dos sintomas mais significativos da actual crise global do cinema decorre, precisamente, do sucesso dos... blockbusters. Porquê? Primeiro, porque a sua dominação estreita a diversidade de oferta dos mercados, impedindo filmes mais "pequenos" (não poucas vezes, com importantes potencialidades comerciais) de encontrarem os seus públicos. Depois, porque é uma ilusão julgar que os números gigantescos de determinadas performances de alguns filmes revelam, necessariamente, uma grande vitalidade do mercado. Informação sintomática, há algum tempo a circular em diversos sites americanos [sugiro artigo da Time sobre 'Summer Movies 2012']: durante o Verão de 2012, nos EUA, venderam-se menos 100 milhões de bilhetes do que na mesma estação, há dez anos. Ponto a ter em conta: os mega-sucessos escondem a realidade muito crua de um mercado que, se não se repensar (a nível global), vai reduzir cada vez mais a base regular de espectadores — ou a base de espectadores regulares.