Blur
Modern Life Is Rubbish
Food / EMI Music
4 / 5
Foi ao segundo disco que os Blur encontraram o seu caminho, escutando entre ecos da “alma” britânica o mundo ao seu redor que lhes permitiu criar uma voz. E com ela ser, hoje, uma reconhecida força dessa mesma herança.
Apesar dos números obtidos por Leisure, as coisas estavam longe de correr bem para os Blur. Para acertar contas aceitaram fazer uma digressão nos EUA e um contrato com uma empresa de T-shirts... Mas as 44 datas americanas foram um fracasso. Aterraram nos EUA no mesmo dia em que era editado Nevermind, dos Nirvana. E o som híbrido entre climas shoegazer e ecos do madchester que o público local adivinhava nas canções dos Blur não morava na sua agenda de interesses. Datam de então histórias de bebida em doses “épicas”. E evidentes sinais de tensão entre os músicos. É contudo na estrada que Damon Albarn começa a escutar outras músicas, procurando, como descreve agora no booklet do álbum de 1993, “coisas simples”. Coisas como os The Kinks ou David Bowie. E o eureka faz-se quando, depois de regressarem ao Reino Unido. Os Suede eram a nova paixão dos jornais musicais e, de uma firme discussão com o patrão da editora sobre os seus “feitos recentes”, nascera a consciência de que era preciso encontrar um rumo para a banda. Afinal, segundo Damon, era o que de mais importante tinha. Compreendem então que se têm de focar naquilo que conhecem e observam, a sua voz podendo assim comentar, com o valor de quem sabe do que fala, o universo ao seu redor. Encontram as pistas nos Kinks, em Bowie, nos The Jam. E em 1993 renascem reinventados como herdeiros de uma certa britishness que lhes dá uma voz. Acompanhados por uma mudança de imagem que sublinha a focagem mui britânica do novo rumo – basta lembrar as fotos com os pólos Fred Perry – os Blur apresentam em Modern Life is Rubbish o disco onde renascem seguros de uma personalidade encontrada. As canções olham o espaço que conhecem e retratam, com humor e por vezes algum cinismo os pequenos nadas das vidas da classe média e dos bairros suburbanos. Musicalmente afinam também os azimutes segundo heranças que passam pela pop brit dos sessentas, por Bowie, por ecos do punk... Canções como For Tomorrwow, Blue Jeans, Chemical World ou o garrido Sunday Sunday revelam uma banda diferente, renovada, firme na condução de uma nova ideia... De certa forma Modern Life Is Rubbish seria uma importante peça no mapa de acontecimentos que iria em breve gerar o mapa brit pop (que teria no álbum Parklife um paradigma)... Esteve longe de ser um sucesso nas vendas. Mas lançou as bases para a carreira que se seguiu, que faria dos Blur a mais importante (e marcante) das bandas britânicas nascidas nos noventas.
A presente reedição junta ao álbum os lados B dos três singles dele retirados, entre os quais a pop à la Kinks de When The Cows Come Home, a versão de Maggie May (de Rod Stewart) que gravaram para uma antologia de versões lançada pelo NME ou leituras para temas como Daisy Bell ou Let's Go All Down The Strand, que visitam memórias da tradição do teatro musical inglês. Ainda presente está Popscene, o injustamente ignorado single de 1992 que entretanto acabara fora do alinhamento do álbum.