Blur
“Leisure – Expanded Special Edition”
EMI Music
3 / 5
Se ainda houvesse dúvidas basta lermos as palavras do próprio Damon Albarn no booklet que acompanha Modern Life Is Rubbish, onde o músico deixa claro que, se pudesse mudar as coisas, Popscene teria sido o primeiro single da banda e o disco de 1993 o seu álbum de estreia. Mas Leisure saíra em 1991. E o desejo revisionista não apaga aquele que, mesmo mal-amado, sem um claro rumo nem uma ideia central, foi o álbum de estreia dos Blur. E, verdade seja dita, está longe de ser assim tão mau como tantas vezes é recordado.
Mas voltemos atrás no tempo. Chamavam-se Seymour (o nome era mazuinho, sim) e não sabiam bem para onde ir... Tocar depressa e alto... Mas na verdade não havia aqui um caminho. Compõem She’s So High no seu primeiro ensaio conjunto, em finais de 1989 e alguns meses depois revelava, como single de estreia, uma promessa que despertou atenções pela forma pop como encarava o legado shoegazer. Algum tempo mais tarde There’s No Other Way, o segundo single, dava-lhes o primeiro “êxito”, o som revelando agora os sinais de diálogo entre uma genética indie rock e as vibrações escutadas na música de dança que faziam então a assinatura dos sinais do tempo... Leisure, editado pouco depois, deixou claro que a falta de rumo que se sugeria ao somar os dois primeiros singles se estendia ao alinhamento de um álbum que, apesar dos bons momentos, não demarcava de todo os sinais de uma personalidade que mais tarde afirmariam os Blur como uma das mais significativas forças pop/rock do seu tempo. Confirmavam-se ecos diretos das heranças shoegazer e ainda os espaços de confronto entre os universos indie e a dança (que então ainda conheciam foco maior de atenções pelos lados de Manchester), com Bang (escolhido como terceiro single) a tentar repetir a “receita” de There’s No Other Way sem o mesmo brilho... Mas é entre temas como Bad Day (que leva a ideia do diálogo entre a genética indie e a dança a um patamar mais estimulante, sobretudo ao assimilar uma vocalização herdeira das memórias do psicadelismo dos sessentas) ou Sing (o momento mais inesquecível do alinhamento) que Leisure revela indícios de opções e capacidades que pouco depois se materializariam num segundo álbum que em tudo confirma quem neste disco de estreia dera mais atenção ao que de promissor ali se desenhava... 21 anos depois Leisure é, pelas formas dominantes, o mais datado (mas não o menos interessante) dos álbuns dos Blur. Podia não igualar os feitos que, na mesma altura, escutávamos já em discos de nomes como os Ride, Chapterhouse e Lush ou, no ano seguinte, escutaríamos na estreia em single dos Suede. Mas lançava as primeiras ideias de uma banda que, com o tempo, soube ir mais longe. Bem mais longe...