terça-feira, agosto 07, 2012

Passagem para a Índia


Se calhar não tem os “nomes” do flavour of the month. Não é coisa muito alternativa nem revolucionária. Não reflete a crise. Não é cínico nem deprimido... E acabou praticamente ignorado quando, não há muitas semanas, passou pelo circuito de salas. Vale o efeito “passa a palavra” e a edição em DVD e Blu-Ray para dar o não visto por visto. E, mesmo não trazendo nada de realmente novo (e é preciso que o traga sempre?), O Exótico Hotel Marigold revela-se afinal como uma boa surpresa.

A capa do Blu-Ray
É certo que o nome que o assina traz lembranças menos gourmet. Assinado por John Madden, o filme carrega a memória de alguém que em tempos nos deu em A Paixão de Shakespeare um dos mais aborrecidos pastelões aclamados em noite de Óscares. Mas ainda recentemente dele vimos também A Dívida... E em nada esse filme devia às recordações menos entusiasmantes desse romance de cordel em tempo shakespeareano de 1998... Devíamos também olhar para o elenco. É certo que não vivemos já num tempo em que o star power é condição suficiente para cativar atenções (veja-se o que aconteceu ainda recentemente a um Rock of Ages com Tom Cruise, Alec Baldwin ou Paul Giamatti)... Mas um elenco com nomes como os de Judi Dench, Tom Wilkinson ou Maggie Smith pode, pelo menos, levantar um pouco a curiosidade...

O filme parte da adaptação de These Follish Things, romance de Deborah Moggach. E leva-nos até Jaipur, no Norte da Índia, onde um conjunto de pensionistas britânicos, que até chegarem ao aeroporto nunca se tinham visto, resolvem viver os seus golden years... Apresentados um a um, em curtos retratos era-uma-vez, rumam a nova vida num hotel que, na verdade, não corresponde ao que a propaganda vendia, à sua frente estando um jovem sonhador, entusiasmado, mas um zero à esquerda em gestão... Mas é do confronto entre as vidas anteriores e o novo cenário que faz o seu presente que, contra uma certa lógica de desistência que muitos parece arrumar em volta de tons pardos, sombras, melancolia, memórias revisitadas à exaustão e profundo desencanto, os novos inquilinos do Holtel Marigold preferem antes encarar o tempo que têm pela frente como um espaço de vida, cor e o desafio possível. O Hotel Marigold funciona assim como um espaço de nova partida para todos. Da viúva recente que nunca trabalhara e descobre que o seu casamento fora um logro, a uma antiga ama cujos patrões dispensaram e trocaram por uma mulher mais nova ao juíz reformado que resolve procurar o homem que amor na juventude, quando vivia na Índia... As imagens e narrativas correm entre as cores e as formas de um mundo que, tal como os protagonistas, também nós descobrimos. Sentido as diferenças, talvez uma pitada de exotismo ma non troppo, mas a cautela de não transformar o filme numa coleção de postalinhos. Acrescente-se aqui que Jaipur é uma das cidades mais turísticas da Índia e que o filme resiste à tentação de fazer sequer uma panorâmica pelos palácios ou fortalezas que moram habitualmente nas páginas das brochuras das agências de viagens.