Se calhar não tem os “nomes” do flavour of the month. Não é coisa muito alternativa nem revolucionária. Não reflete a crise. Não é cínico nem deprimido... E acabou praticamente ignorado quando, não há muitas semanas, passou pelo circuito de salas. Vale o efeito “passa a palavra” e a edição em DVD e Blu-Ray para dar o não visto por visto. E, mesmo não trazendo nada de realmente novo (e é preciso que o traga sempre?), O Exótico Hotel Marigold revela-se afinal como uma boa surpresa.
A capa do Blu-Ray |
O filme parte da adaptação de These Follish Things, romance de Deborah Moggach. E leva-nos até Jaipur, no Norte da Índia, onde um conjunto de pensionistas britânicos, que até chegarem ao aeroporto nunca se tinham visto, resolvem viver os seus golden years... Apresentados um a um, em curtos retratos era-uma-vez, rumam a nova vida num hotel que, na verdade, não corresponde ao que a propaganda vendia, à sua frente estando um jovem sonhador, entusiasmado, mas um zero à esquerda em gestão... Mas é do confronto entre as vidas anteriores e o novo cenário que faz o seu presente que, contra uma certa lógica de desistência que muitos parece arrumar em volta de tons pardos, sombras, melancolia, memórias revisitadas à exaustão e profundo desencanto, os novos inquilinos do Holtel Marigold preferem antes encarar o tempo que têm pela frente como um espaço de vida, cor e o desafio possível. O Hotel Marigold funciona assim como um espaço de nova partida para todos. Da viúva recente que nunca trabalhara e descobre que o seu casamento fora um logro, a uma antiga ama cujos patrões dispensaram e trocaram por uma mulher mais nova ao juíz reformado que resolve procurar o homem que amor na juventude, quando vivia na Índia... As imagens e narrativas correm entre as cores e as formas de um mundo que, tal como os protagonistas, também nós descobrimos. Sentido as diferenças, talvez uma pitada de exotismo ma non troppo, mas a cautela de não transformar o filme numa coleção de postalinhos. Acrescente-se aqui que Jaipur é uma das cidades mais turísticas da Índia e que o filme resiste à tentação de fazer sequer uma panorâmica pelos palácios ou fortalezas que moram habitualmente nas páginas das brochuras das agências de viagens.