segunda-feira, agosto 27, 2012

Novas edições:
Antony & The Johnsons, Cut The World


Antony and the Johnsons 
“Cut The World” 
Secretly Canadian / Popstock
4 / 5

Não é um ‘best of’. Tecnicamente não o é... Mas na verdade não está longe de o ser, o alinhamento deste disco ao vivo gravado no ano passado em Copenhaga com a Danish Chamber Orchestra a partilhar o palco, mais não sendo que uma seleção de canções que, em pouco mais de dez anos (ou apenas sete, se pensarmos que até I’m A Bird Now quase ninguém lhe prestou atenção) fizeram de Antony Hegarty uma das mais únicas e aclamadas das vozes do nosso tempo. E quando falo em vozes não me refiro apenas ao canto (onde é único, de facto, assimilando heranças de uma Nina Simone a um Boy George, mas de forma indubitavelmente sua), mas a toda a expressão de uma identidade artística e até mesmo uma personalidade como figura que sabe que é afinal a diferença que existe entre nós a maior força que nos une como ser coletivo e social. É essa a voz que, logo após Cut The World, o tema-título que abre o disco (um inédito, que provém da peça de teatro The Life and Deadth of Marina Abramovic, de Robert Wilson), nos fala, durante mais de sete minutos, de uma mudança de paradigma de um poder patriarcal para um outro, matriarcal. De feminismo. Um outro feminismo. De se ser bruxa logo à nascença por se ser transgénero... Um discurso tranquilo no modo, mas pungente nas ideias. Arrebatador. Como se definindo um prólogo que nos transporta para o mundo que, depois, ganha expressão, cor, linhas, som, na mão-cheia de canções recuperadas das várias etapas da sua obra, porém sob novos (e magníficos) arranjos para orquestra. E aqui, como em tudo na obra de Antony, as opções não se fazem num caminho ou no outro, antes nos dois. Ou seja, tanto habita entre estas canções a lógica quase ambiental e minimalista que faz de Another World um canto de profunda solidão, como uma expressão de luxuriante sinfonismo, que povoa outros momentos. O alinhamento reencontra peças anteriores a I’m A Bird Now como The Cripple and the Starfish do álbum de estreia ou o single I Fell In Love With a Dead Boy. Deixa de lado algumas das magníficas versões que Antony costuma levar ao alinhamento dos seus concertos. Mas, e pelo valor das duas faixas inéditas e dos novos arranjos, mostra que, na hora de pensar um equivalente a um “o melhor de”, optou por nos dar, além disso, uma ideia de reinvenção e novidade. O ouvinte agradece.