quinta-feira, agosto 09, 2012
Um milagre para dois irmãos
Koichi vive com a mãe o os avós numa pequena cidade portuária, frente a uma pequena ilha onde um vulcão voltou a entrar em erupção, lançando constantemente cinzas sobre tudo e todos... Ryunosuke, o irmão mais novo, ficou em Osaka com o pai, guitarrista numa banda indie que se prepara para regressar aos palcos... Juntar novamente os quatro é o maior sonho do pequeno Koichi... Mas como?... Só mesmo pedindo um milagre. E é isso mesmo que procura quando descobre que, se estiver junto do ponto onde dois novos TVG se cruzarem na viagem inaugural de uma nova linha, o que pedir será realizado... É este o “sonho” de que nos fala O Meu Maior Desejo, do japonês Hirozaku Koreeda de quem já vimos em sala títulos anteriores como Ninguém Sabe (2004) e Andando (2008), dois dos maiores acontecimentos cinematográficos da última década. E que, sem favor, é certamente um dos melhores filmes que vamos ver este verão.
Em paralelo descobrimos os mundos hoje separados dos dois irmãos, os espaços de família onde fazem o seu dia-a-dia, as rotinas de escola e os amigos com quem projetam a viagem secreta até ao local onde poderão pedir, cada qual, o seu milagre. Longe de qualquer noção de realismo miserabilista ou desencantado (a que o realizador não recorre, nem mesmo nos momentos mais dramaticamente acutilantes de Ninguém Sabe), O Meu Maior Desejo é coisa tão luminosa e leve como o sonho que anima os dois irmãos e amigos. O olhar de Koreeda integra uma vez mais o espaço (físico e humano) e o contexto na narrativa com impressionante subtileza retomando a exploração de uma narrativa em território de famílias desagregadas. Volta a expressar um respeito adulto pelo retrato dos mais novos (em nada os reduzindo aos clichés apatetados que vemos em tanto cinema e televisão do nosso mundo ocidental), a observar as formas de relacionamento e respeito que são expressão atual de uma cultura ancestral e a encarar a comida e o momento das refeições como pólo agregador e central da expressão do espaço familiar.
Esta última característica parece ser, decididamente, uma das mais caras marcas de identidade que, aos poucos, estão a construir a personalidade do cinema de Koreeda. Na primeira destas três imagens evocamos um dos momentos de vida conjunta nos momentos iniciais de Ninguém Sabe (2004) filme que parte de acontecimentos reais para acompanhar um grupo de quatro crianças obrigadas a uma inesperada e precoce auto-suficiência quando, sem o avisar, a mãe simplesmente sai de cena... Na segunda encontramos a família que é o centro gravítico da trama (e das memórias) que passam por Andando (2008), filme que reflete afinidades com heranças do cinema de Ozu. E a terceira devolve-nos a O Meu Maior Desejo, na forma de uma recordação da vida a quatro que os dois irmãos desejam retomar.