quarta-feira, agosto 01, 2012
A música de 'Elena'
De Andrei Zvyagintsev já conhecíamos O Regresso (de 2003), que teve estreia em sala entre nós (e inclusivamente lançamento local em DVD). The Banishment (há edição em DVD no Reino Unido, pela Artificial Eye), de 2007, notabilizou-se em Cannes mas não chegou a este canto da Europa. Melhor sorte para Elena, o seu mais recente filme (e talvez o melhor título a chegar no último mês às salas nacionais). Sólido na narrativa - um drama familiar centrado na figura de uma mulher que se vê confrontada entre a doença grave do marido (um homem rico com quem casou há dez anos) e as necessidades financeiras do filho (que vive num subúrbio e anda pela casa entre mais uma garrafa de cerveja e um jogo de plataformas com o filho mais velho) – e claro na forma de retratar implicitamente, sem moralismos nem uma agenda sociológica, os climas da Rússia dos nossos dias, Elena é no plano estético um primor de cuidado e refletido perfecionismo. A escolha de Philip Glass na hora de pensar a banda sonora revela afinal, mais que a presença de um “nome”, uma razão de ser que tanto entendemos no caráter arrumado de uma composição igualmente refletida e cuidada, como na forma como a lógica repetitiva da música serve o ritmo de ações de rotina do quotidiano que serve no ecrã (note-se a forma como, com precisão de quem sabe pensar o seu cinema, o realizador escolhe cautelosamente os instantes em que a música entra em cena).
A música de Philip Glass usada em Elena não resulta de uma encomenda de nova escrita – como ao longo dos anos tem acontecido com tantos outros trabalhos de Philip Glass para o cinema – mas antes no encontrar, em momentos da sua Sinfonia Nº 3, do corpo de sons adequado às imagens e à história de Elena. Sinfonia em quatro andamentos, a “terceira” de Philip Glass foi composta tendo em mente os instrumentistas de cordas de uma orquestra (em concreto a Orquestra de Câmara de Estugarda, para quem foi encomendada). Estrada em 1995, teve gravação disco pela Orquestra Sinfónica da Rádio de Viena, dirigida por Dennis Russel Davies. O lançamento é da Nonesuch Records.