domingo, julho 29, 2012

Uma nova visão sobre Bruckner


Uma versão "completa" da Sinfonia Nº 9 de Bruckner pela Berliner Philharmoniker, dirigida por Simon Rattle. A edição é da EMI Classics.

A vontade de completar obras deixadas incompletas pelos seus compositores levanta inevitavelmente debates e é coisa que em nada alcança unanimidades. Veja-se o caso da “Sinfonia Nº 10” de Mahler, muitos maestros não a considerando na hora de gravar integrais em disco, alguns (como Bernstein, por exemplo), aceitando a inclusão do primeiro, que o compositor deixou incompleto, todavia com um esboço da orquestração. Simon Rattle é um dos maestros que aceitam não apenas uma abordagem ao trabalho de “reconstituição” desta obra deixada incompleta, como assinou a gravação de uma das leituras de “referencia” dessa visão (que, se sublinha uma vez mais, não é coisa de todo unânime...). É o mesmo Simon Rattle, acompanhado pela “sua” Berliner Philharmoniker, quem agora nos apresenta uma visão “completa” da Sinfonia Nº 9 de Bruckner.

A última sinfonia de Anton Bruckner (1824-1896) foi deixada incompleta pelo compositor, a morte impedindo-o de concluir o quarto andamento para o qual contudo deixou esboços e anotações registadas. A leitura mais “canónica” da nona de Bruckner apresenta habitualmente os três andamentos, para os quais ao longo dos anos foram sendo apresentadas e publicadas várias “versões”. O quarto e último andamento da sinfonia é contudo o “caso” que acende o debate, não só entre os que o aceitam interpretar e os que o rejeitam, mas também quanto à forma como, a partir do que Bruckner deixou escrito, várias propostas de “conclusão” da obra foram apresentadas. Discograficamente a Sinfonia Nº 9 de Bruckner começou por conhecer versões para apenas três andamentos, a mais antiga gravação que se conhece datando de 1934, sob direção de Otto Klemperer. A primeira tentativa de reconstrução total da obra surgiu em disco pela primeira vez em 1983, na versão de William Carragan, numa gravação pela Utrecht Symfonie Orkest, com o maestro Hubert Soudant. Simon Rattle apresenta agora em disco a revisão mais recente (que data de 2011) de uma versão originalmente apresentada em 1992 em conjunto por quatro especialistas em Bruckner (Samale, Mazzuca, Phillips e Cohrs).

Dedicada a Deus por um compositor profundamente crente, a Sinfonia Nº 9 de Bruckner é uma das suas mais belas e arrebatadoras composições orquestrais, traduzindo a expressão de alguém que sabe que está prestes a partir, as sensações de medo e maravilha cruzando-se num espaço onde a fé lhe garante a paz. A versão reconstruída que agora escutamos resulta de um longo processo de investigação com mais de vinte anos, dos 647 compassos do quarto andamento, 208 nascendo diretamente da mão do compositor. E, sublinha Rattle no texto que o booklet, “há mais Bruckner aqui que Mozart no seu Requiem”.



Imagens de um filme promocional que apresenta esta gravação na qual vemos a orquestra a interpretar esta sinfonia de Bruckner e Simon Rattle a apresentar a.versão que agora leva a disco,