segunda-feira, julho 30, 2012
Um '2001' ao estilo de 2012?...
Foi em 1968... Sim, há 44 anos. E mudou a forma de encarar o cinema de ficção-científica. Realizado por Stanley Kubrick com a preciosa colaboração da visão do escritor Arthur C. Clarke, 2001: Odisseia no Espaço tornou-se numa das mais citadas referencias da história do próprio cinema. Agora, 44 anos depois, o site Film School Rejects apresenta um trailer “alternativo” imaginando como seria feita a apresentação deste mesmo filme, caso surgisse em 2012...
Velocidade, velocidade, corte, corte, música ritmada (e muito má, convenhamos), corte, corte, vertigem, velocidade, imagem acelerada, velocidade, letras...
Antes de mais, recordemos aqui o trailer original.
E, já agora, aqui o tailer que nos apresentou Moon, de Duncan Jones (e já lá vamos...).
Parece o trailer de 2001 para 2012 uma “atualização” credível? Bom, na verdade é apenas um exercício de suposição, sem fins que não os de prestar uma eventual homenagem a um clássico, procurando talvez a comunicação com uma potencial nova geração de espectadores... Correndo desde logo dois riscos. O de alienar ao fim de alguns segundos o interesse de quem conhece o filme (que ali não reconhece nem o ritmo da respiração, o sentido de maravilha contemplativa ou mesmo a elegância gourmet da música usada por Kubrick) e o de desencantar os “novos” recrutas quando eventualmente se virem confrontados com o filme e se cansarem dos seus planos com bem mais de cinco segundos... (e para isso têm Rock of Ages, o candidato número um ao prémio de cine-lixo do ano).
O trailer agora construído, mesmo “esquecendo” a vontade em sugerir versões condensadas do plot (que contam quase tudo) que muitos trailers atuais nos mostram, não deixa contudo de traduzir o que são sinais dos tempos. A vontade de mostrar muito em pouco tempo, de quase afogar os olhos em imagens, de sugerir vertigem e ação (mesmo onde na verdade mora outra velocidade na gestão dos espaços, gentes e acontecimentos), de encontrar entre o ritmo da música e do ritmo da montagem um entendimento metronómico a cada batida... E entra aqui em cena o trailer de Moon, de Duncan Jones. O filme é talvez o melhor exemplo de um cinema de ficção científica com vontade em explorar ideias que refletem também uma relação com a literatura do género, evitando a lógica do protagonismo dos efeitos especiais perante o vácuo de outros “argumentos” de tantos outros exemplos da história recente deste importante espaço de criação cinematográfica. Veja-se como é relativamente "ofegante" o trailer de Moon, em evidente contraste com um filme que, mesmo longe de contemplativo, caminha todavia sob outras preocupações que não as da ação, do susto ou do espetáculo dos efeitos visuais.
O trailer “novo” de 2001 para 2012 começa contudo por falhar o alvo, talvez por ingenuidade, logo a partir do momento em que toma o filme como uma ideia que se pode apresentar como sendo coisa de ação. Mas mais que nele vermos uma “alternativa” ao de 1968 ou uma tentativa de chamada de atenção a novos públicos, podemos encarar este trailer como um exemplo que serve para refletirmos sobre como se comunica uma ideia. E convenhamos que a visão apresentada é mais formatada e conservadora que aquela que o filme de Kubrick (e o trailer que então o anunciava) revelava então, apresentando-nos um dos mais desafiantes ensaios sobre o nosso próprio futuro.