sexta-feira, julho 20, 2012

Tom Cruise, ar de rock

Tom Cruise poderá ser a solução para o muito ansiado "renascimento" do género musical, em Hollywood? Dificilmente. Em todo o caso, ele é o melhor do filme A Idade do Rock — este texto foi publicado no Diário de Notícias (18 Julho), com o título 'Nostalgia do género musical'.

As más línguas de Hollywood dirão que, contrariando o seu próprio estatuto de star, Tom Cruise negociou uma presença discreta nos cartazes e promoções de A Idade do Rock. Porquê? Devido a um compreensível pressentimento: os desequilíbrios narrativos do filme, ampliados pela revisitação superficial do rock da década de 80, só poderiam gerar um aparatoso desastre de bilheteira... De facto, assim aconteceu: apesar de ter custado apenas 75 milhões de dólares, orçamento mediano para os grandes estúdios americanos, A Idade do Rock não chegou aos 40 milhões de receitas em cinco semanas de exibição, o que, em termos comerciais, é confrangedor.
Dir-se-ia que nem mesmo um actor de enorme apelo universal consegue lançar o tão ansiado renascimento do género musical. Paradoxalmente, Cruise é o melhor de todo o filme: a sua composição do enigmático Stacee Jaxx poderá ser definida como o cruzamento irónico de diversas figuras emblemáticas do “glam metal”, de Bon Jovi a Joe Elliott (dos Def Leppard). Quase todas as outras personagens se vão perdendo num tom banalmente caricatural, aqui e ali resgatado pelo sentido de palco do realizador Adam Shankman, obviamente devedor da sua experiência como coreógrafo.
Num cinema cada vez mais marcado pela aplicação gratuita dos célebres “efeitos especiais” e pelas rotinas dos blockbusters, parece cada vez mais difícil encontrar um sentido (e um gosto) narrativo enraizado na energia dos corpos e na vibração da música. Daí o estado das coisas: o musical continua a ser um género suspenso, aqui e ali animado por algumas excepções nostálgicas (Hairspray, dirigido por Shankman, em 2007, foi uma delas), mas sem encontrar regras de produção e encenação que, de alguma maneira, renovem a riquíssima herança clássica do género.