quinta-feira, junho 28, 2012

Discos pe(r)didos:
The Auteurs, New Wave


The Auteurs 
“New Wave” 
Hut Records 
(1993) 

Em inícios dos anos 90 as duas grandes esperanças apontadas em finais dos oitentas a ocupar o lugar deixado vago pelos Smiths no patamar de uma certa tradição pop britânica feita com guitarras davam sinais de não corresponder às expectativas. Os The La’s editavam um álbum e ponto final. E os House of Love, apesar dos feitos notáveis somados entre 1988 e 89, perdiam viço e admiradores a cada novo disco que iam lançando depois de terem saído da independente Creation Records que os vira nascer (discograficamente falando, claro). Ao mesmo tempo os focos de agitação de Manchester e arredores (dos Stone Roses aos Charlatans e outros mais), onde estas heranças se cruzavam com ecos da nova cultura de dança, iam esmorecendo... É então que entram em cena nomes que em breve mudariam o panorama, construindo uma realidade de protagonismo partilhado (sem repetir contudo nunca o estatuto quase transversal e profundamente influente da banda que nos revelou a figura e voz de Morrissey). Os Blur iam já talhando um caminho que, a seu tempo, deles faria um dos nomes centrais da sua geração, mas estavam ainda longe de merecer o justo reconhecimento transversal que teriam pouco depois. E é por volta de 1992 e 93 que começamos a ouvir falar em bandas como os Radiohead (que lançam Pablo Honey em 1993), Suede (que editam o seu belíssimo álbum de estreia no mesmo ano) e os Auteurs que, entre os seus contemporâneos são talvez os autores do mais interessante (e curiosamente mais esquecido) dos álbuns que reativaram o foco de interesse pela pop talhada a guitarras que, de certa maneira, abre caminho para a manifestação maior de euforia mediática que pouco depois ganharia forma sob rótulo brit pop (há quem discuta a relação da banda e do seu disco de estreia com o movimento, mas o relacionamento possível parece mais coincidência de tempo, lugar e contexto que outra coisa, o brit pop seguindo depois caminhos com uma relação popular que nada teve de comum com o caminho mais discreto e feito de marcas autorais dos Auteurs).
Quem eram, então, os Auteurs? Acima de tudo, o veículo para dar corpo às canções e histórias cantadas por Luke Haines. Nascido em 1967, Haines tinha já assinado um passo com relevância histórica ao ver a sua banda anterior, os The Servants, ser incluída no alinhamento da mítica cassete C86, lançada pelo NME, que tantas ideias semeou no mapa futuro da cena pop/rock alternativa. Em 1991 junta uma série de músicos, alguns vindos da banda anterior, e forma os Auteurs, que chamam atenções a tocar à volta de Londres no ano seguinte, chegando a disco em 1993 com New Wave, um álbum que deixa não só evidentes as heranças clássicas que os definem – Kinks, Beatles, Bowie – e um impressionante conjunto de canções de brilhante alma narrativa, contando sobretudo histórias desencantadas, muitas delas vividas entre o mundo do espetáculo e da fama e suas periferias. Juntando temas como Show Girl, Bailed Out ou Starstruck, o disco cativou mais atenções junto da crítica que do público. Mas ajudou a abrir caminho a um recentrar de atenções do panorama pop britânico junto de heranças mais clássicas, a Luke Haines (sem dúvida um dos grandes escritores de canções da sua geração) tendo faltado talvez a imagem e carisma (e talvez o valor acrescentado de aposta da sua editora) que fez de Jarvis Cocker (Pulp) ou Brett Anderson (Suede) os rostos dos tempos que se seguiriam. Mesmo sem a mesma exposição mediática, Haines foi desenvolvendo notável obra em disco, quer através dos Auteurs (que se separam em 1999) ou projetos subsequentes, entre os quais os Black Box Recorder, a melhor das bandas pop mais esquecidas da década dos zeros. Quase 20 anos depois, New Wave é uma pérola a (re)descobrir. Um episódio na história de uma tradição clássica a que o tempo ainda não deu o merecido reconhecimento.

E depois do álbum 
Com os Auteurs, Luke Haines editaria ainda mais três álbuns de originais até 1999. Criou depois o projeto pontual Baader Meinhof, mais tarde os Black Box Recorder, estes já em clima pop (com electrónicas). Fez música para cinema e nos últimos anos tem editado discos em nome próprio.