quinta-feira, maio 10, 2012

Um vampiro (de outras colheitas)


Um homem de sucesso, que não presta atenção aos amores da criada (que afinal era bruxa) acaba feito vampiro e fechado num caixão até que é descoberto 200 anos depois. Nascera em Inglaterra, ainda no século XVIII e mudara-se com a família para uma América nos dias da colonização. Acorda em 1972, quando Marc Bolan, Donovan ou Alice Cooper são os novos deuses... O confronto entre épocas, a devoção firme pela família (que ainda mora na velha mansão mas sem a opulência de outros tempos) e a velha contenda com a bruxa que o enfeitiçara (que agora é moderna e stylish empresária de sucesso) fazem o tutano de Dark Shadows (entre nós estreia hoje como Sombras da Escuridão) o oitavo filme em que Tim Burton colabora com Johnny Depp.

O filme nasce de uma adaptação de elementos-chave de uma série televisiva que fez carreira de 1966 a 1971 (na verdade a personagem de Barnabas Collins, que Depp veste neste filme, surgiu apenas um ano depois dos primeiros episódios, transformando-se numa das figuras mais populares do programa). Tim Burton faz contudo – e como sempre – questão de chamar personagens, espaços e narrativa ao seu universo. E se, por um lado, a história tem os seus trunfos narrativos (doseando humor, sobretudo nos choques que vive um vampiro de outro tempo numa terra diferente, com elementos de drama familiar e outros temperos com conta, peso e medida), por outro é visualmente sustentada por uma art direction exemplar e um saber profundamente pessoal no olhar das câmaras que há muito acompanhamos na obra do realizador. Tim Burton está aqui em clara zona de conforto, ainda mais ao chamar de novo a presença de atores com quem já trabalhou. Além de Johnny Depp e de Helena Bonham Carter (com quem é casado), Burton reencontra aqui Michele Pfeiffer, a "sua" Catwoman em Batman Returns.

Comparado com peças exemplares com o são Eduardo Mãos de Tesoura, Ed Wood, Sweeney Todd ou Charlie e a Fábrica de Chocolate, Sombras da Escuridão não será um Burton “maior”. Mas é certamente dos melhores exemplos de um cinema popular inteligente que vamos vendo em sala por estes dias.

PS. E que bom que é ver um filme “com vampiro” que não segue a fé da moda Twilight ou das variações mais banais em que se transformou a série Sangue Fresco.