Cry Baby
“Cry Baby” Helium
3 / 5
“Cry Baby” Helium
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Apesar do filão dos oitentas ter dominado parte das reivindicações de heranças entre os nomes que nos últimos anos têm surgido com bilhete de identidade britânico há outras fontes ativas a motivar reencontros. Que o digam os Belle & Sebastian ou Camera Obscura, que nos sessentas encontraram as linhas e cores que moldaram à sua ideia de uma pop que vive entra a nostalgia e a consciência de que é coisa do presente. É também aos sessentas que Danny Coughlan vai procurar a matéria prima para, ao gravar como Cry Baby, vestir a pele do crooner magoado que entoa trovas de melancolia em cenário arrumado. Não é o primeiro a fazê-lo e a memória ainda recente das experiências de um Richard Hawley dá conta da continuidade de uma escola que conta, aqui parecendo claras as buscas no sótão pelos ensinamentos de produtores como Joe Meek ou Phil Spector. O alinhamento é todo ele fiel a uma ideia firme, entre a abertura ao som de I Cherish The Heartbreak More Than The Love That I Lost à incursão mais soulful de um When The Lights Go Out morando dois belos exemplos de como o músico é consequente na forma como incorpora ecos de um tempo que não aquele em que vive, mas certamente representa aquele que plasticamente o motiva. O que faz então com que, apesar de uma mão cheia de boas canções e de um rumo bem definido, Cry Baby não seja um acontecimento maior? Se nos recordarmos da forma como os The Smiths também haviam encontrado nos sessentas a matéria prima para um reencontro com raízes primordiais das quais partiram depois em busca de uma música sua, pessoal e capaz de agir com o seu presente ou da forma como (o claramente menos consequente) Maximilan Hecker soube reativar o modelo do crooner num cenário que relacionava heranças com o seu tempo sentimos que, apesar da encenação bem aprumada, a Danny Coughlan falta encontrar uma personalidade que junte algo mais evidentemente seu às heranças que tão bem parece ser já capaz de assimilar.