VCMG
"Ssss"
Mute Records
2 / 5
É impossível contar a história da pop electrónica sem referir os nomes de Vince Clarke e Martin Gore. Ambos surgiram em cena na alvorada dos oitentas a bordo dos Depeche Mode. Mas foi curta a sua vida conjunta, Vince Clarke anunciando a saída do grupo pouco depois do lançamento do álbum de estreia Speak & Spell (1981). Martin Gore “salta” então para a linha da frente da escrita, revelando uma alma bem distinta da de Clarke logo em A Broken Frame (1982). Daí em diante, e salvo ocasionais contribuições de Alan Wilder e, mais recentemente, de Dave Gahan, Martin Gore fez-se o compositor dos Depeche Mode. Ao mesmo tempo Clarke procurou o seu caminho, primeiro nos Yazoo, depois na fugaz aventura The Assembly, encontrando terra firme, desde 1984, a bordo dos Erasure... Uma remistura de Clarke para um álbum de remixes dos Depeche Mode assinalou o reencontro entre os dois músicos. E da vontade em trabalhar novamente juntos após um intervalo de 30 anos resolvem fazê-lo num álbum lançado sem o aparato que poderia ser esperado perante tamanha reunião de veteranos. Chamam ao projeto VCMG (as suas iniciais, portanto) e optam por uma política instrumental em clima techno. Ou seja, em vez de procurarem um ponto de diálogo entre o que hoje são e outrora fizeram juntos, resolvem partir rumo a um espaço de interesse comum. Pena que Sssss seja tamanha desilusão, o alinhamento revelando (apesar de pontuais motivos de interesse, sobretudo nos registos de som escolhidos) uma opção por uma techno sem viço nem brilho nem mesmo marcas maiores de personalidade. Competente na produção, sem dúvida, mas inconsequente, o método de trabalho encontrado (todo o disco foi criado via email) acabando por mostrar como a presença física num espaço comum e o diálogo são ainda argumento que a comunicação digital não substitui por inteiro. Compare-se este reencontro com o (igualmente discreto) os resultados da bem mais compensadora reunião de Nick Rhodes com Stephen Duffy via The Devils (onde reencontraram as canções da primeira encarnação dos Duran Duran, onde ambos militavam em 1978) e reconheça-se quão aquém do que de potencialmente cativante poderia haver neste reencontro fica aqui por acontecer...