The Shins
"Port Of Morrow"
Aural Apothecary/ Sony Music
4 / 5
Têm sido mais frequentes as palavras de desencanto que as de entusiasmo perante a chegada de Port Of Morrow, o quarto álbum dos The Shins. Permitam-me destoar... O disco surge cinco anos depois de Wincing The Night Away, que era já expressão evidente de um protagonismo maior de James Mercer, vocalista e timoneiro da banda que tinha chamado primeiras atenções em 2001 ao editar o belíssimo Oh Inverted World e lançando seguro segundo episódio dois anos depois em Chutes Too Narrow. Em 2004 a presença de New Slang na banda sonora de Garden State (ainda por cima apresentada por Natalie Portman como uma canção que “muda uma vida”) deu-lhes outra visibilidade, a edição em 2007 de Wincing The Night Away (que correspondeu ao primeiro grande sucesso de vendas do grupo) representando já sinais de mudanças, James Mercer procurando então o cruzar da sensibilidade indie que os Ths Shins tinham vivido nos primeiros discos com uma busca de um certo classicismo pop, procurando referencias nos grandes livros dos sessentas, entre os Beatles e os Byrds encontrando heranças que expressou segundo uma personalidade mais dada às luzes que às sombras. Port Of Morrow não é mais senão um episódio de evolução na continuidade... É certo que muito mudou em cinco anos. A redução dos The Shins de outrora à figura do seu vocalista (desde então o grupo tendo chamado outros músicos, apesar de dois dos ex-elementos terem colaborado no novo disco) e a experiência conjunta de James Mercer junto a Danger Mouse nos Broken Bells (onde a presença das electrónicas era força de grande protagonismo) são dados a ter em conta neste intervalo. Port of Morrow, apesar da mais evidente presença de teclados, não vai tão longe nesse departamento como Mercer o fez a bordo dos Broken Bells. O disco é antes uma sólida coleção de canções de arestas mais polidas que nunca numa produção que, mesmo longe de asséptica, aposta numa arrumação maior das ideias. Mais que em Wincing The Night Away, onde sentíamos Mercer em busca de caminhos, Port Of Morrow é um disco mais focado, as suas canções expressando afinidades com escolas clássicas, a alma pop de McCartney parecendo ser um guia espiritual que conduz o rumo dos acontecimentos. É mainstream? Pode ser, sim (e há mal nisso?)... Mas depois do impacte de New Slang, a vida pública de Wincing The Night Away já havia assegurado em 2007 essa mudança de estatuto aos The Shins. Pode ser verdade que se tenha perdido o sentido de banda (que na verdade só morou nos dois primeiros álbuns do grupo). Pode ser ainda verdade que nada de profundamente “novo” aqui aconteça. Mas é também verdade que em Port Of Morrow James Mercer confirma ser um grande autor de canções pop com alma luminosa, propondo dez pequenas narrativas que expressam a alma de um homem aparentemente tranquilo. Desta vez a música dos The Shins não vai mudar nenhuma vida. Mas assegura uma continuidade. Porque nem tudo é feito de revoluções.