quarta-feira, abril 18, 2012
Nos 70 anos de Noronha da Costa
Este texto foi originalmente publicado na edição de 9 de abril do Diário de Notícias com o título ‘Uma visita guiada pela obra de Noronha da Costa’. O pintor faz hoje 70 anos.
“Um artista não tem, idealmente, biografia. Ao menos no sentido em que todos nós temos uma. Ou, antes, a biografia que interessa reter dele fazem-na as suas obras”. Não necessariamente todas, mas “aquelas que correspondem aos momentos em que pintou esta ou aquela obra decisiva”, explica Bernardo Pinto de Almeida nas primeiras linhas de A representação das Imagens, um livro (ed. Afrontamento) que propõe um olhar panorâmico sobre a obra do pintor Noronha da Costa. O mesmo que, na dedicatória que lança nestas páginas, sugere nas palavras todo um programa visual: “Não mais representar coisas / mas apresentar as suas imagens / na verificação de que as imagens / são a antítese das coisas / o ecrã transparente através do qual vemos a realidade.”
Mais que um inventário exaustivo da obra do artista, Representar as Imagens é, assim, um olhar dirigido sobre a sua obra procurando, como explica o autor, alguns dos aspetos que a tornaram “inovadora, mostrando de que modo ela dialoga criticamente com o seu e o nosso tempo histórico”.
São cinco décadas de trabalho as que aqui são objeto da atenção de um livro. Nascido em Lisboa em 1942, Luís Noronha da Costa é um pintor, cineasta e arquiteto diplomado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Datam de 1962, há precisamente 50 anos, as suas três primeiras exposições individuais (em Lisboa, Munique e Paris). Até às mais recentes “La Imagem Elegante” (Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva) e “Diálogos com a Coleção Gerardo Rueda” (Galeria Municipal de Matosinhos), ambas em 2011, a lista de exposições que se seguem é longa e variada na geografia. As obras de Noronha da Costa passam pelo Porto, São Paulo (Brasil), Barcelona, Londres onde integra a exposição “Portuguese Art Since 1910”, apresentada em 1978 na Royal Academy of Arts), Washington, Bruxelas...
Bernardo Pinto de Almeida recorda que Noronha da Costa recebeu “nos inícios da sua intervenção pública e expositiva um invulgar reconhecimento crítico e estético por parte da inteligência portuguesa mais ativa”, observando que, depois, e sobretudo nas duas décadas que mediaram as suas retrospetivas (em 1983 e 2003, respetivamente na Gulbenkian e no CCB), “caiu numa espécie de incompreensível esquecimento crítico” que o autor do livro diz ser “incompreensível”. Isto apesar da sua “imparável” receção no mercado, como descreve.
Noronha da Costa é, apesar deste referido silenciamento mais recente, um pintor que Bernardo Pinto de Almeida descreve como figura “que motivou grande consenso” num período que aponta entre meados dos anos 60 e inícios dos 80. Mas mesmo “solitária”, como a retrata o livro, a obra “foi avançando com segurança”, continuando a construir-se “como corpo conceptual autonomizado e singular”. O autor acrescenta que, por isso, “a sua redescoberta nos últimos anos” mesmo tardia, tornou-se “tarefa acrescida de uma nova geração crítica e intelectual”. O livro, de certa forma, contribui assim para esse reencontro.