Madonna
"MDNA"
Live Nation / Universal
3 / 5
É quando se começa a jogar à defesa que se sente que algo pode estar a correr menos bem. E se se sente a necessidade de afirmar o que não faz falta dizer (como quando Nicki Minaj diz “there’s only one queen and that’s Madonna” em I Don't Give A), mais clara fica ainda a fragilidade da coisa... É o que acontece em MDNA, o novo disco de Madonna que, dominado por alguns erros maiores, acaba como um dos discos menores da sua discografia (facto triste quando, na verdade, até tinha na calha ingredientes suficientes para garantir precisamente o contrário). Mas vamos por partes... Há uns sete anos tudo corria de feição. Confessions on A Dance Floor juntava-se a Ray Of Light (1998) e a Erotica (1992) para sublinhar uma santíssima trindade de discos que celebravam uma relação entre a canção pop e a música de dança, em todos os casos revelando uma capacidade de sintonia com os contextos de época e chamando a bordo as colaborações certas na hora certa para o efeito certo... Hard Candy, um pouco depois (em 2008), deu primeiros sinais de desorientação num disco em que víamos Madonna a entrar num comboio, já em andamento, e que não era o seu (o da relação da pop com o hip hop, escola Timbaland e arredores). E correu mal, como se viu, resultando no pior momento da sua obra. Mas em 2012 parecem ainda mais evidentes esses ecos de desorientação num disco que acaba por não decidir exatamente para onde quer ir, perdendo o foco entre uma vontade de continuação da ideia de busca de elixires da eterna juventude através da assimilação da música de dança, e o desejo de aprofundar uma relação antiga com a canção pop que nos deu clássicos maiores como True Blue (1986), Like A Prayer (1989) e o perfeito Ray Of Light (1998), sendo de sublinhar que entre Music (2000) e American Life (2003) Madonna encontrara um interessante patamar de entendimento entre essas duas forças maiores. Não é grave que MDNA seja um disco dividido entre o desejo de não perder o contacto com a pista de dança e um saber na escrita de canções pop, que aqui se manifesta na excelência de temas como I’m A Sinner, Love Spent ou os belíssimos Falling Free e Masterpiece (este último o mais inspirado dos momentos do alinhamento do álbum), todos eles curiosamente produzidos (e em parte co-assinados) por William Orbit (o parceiro de trabalho nos dias de Ray Of Light). O que não faz sentido é que a abordagem à dança se faça segundo os caminhos seguidos pela produção de Benny Benassi ou Martin Solveig, que transportam parte do alinhamento para patamares de alguma (inesperada) banalidade tão comum em pistas de dança menos gourmet. Lembre-se aqui que, desde os dias de Holiday ou Into The Groove à celebração maior de Confessions On A Dance Floor, a relação de Madonna com a música de dança sempre foi ideia central na sua música. Mas mesmo tendo em Girl Gone Wild um potencial single poderoso e em Gang Bang (de William Orbit) outro dos instantes de maior brilho pop com sabor a noite dançante deste disco, a primeira metade do alinhamento parece procurar respostas a figuras como Lady Gaga ou Rhianna, facto que quando a voz de Nikki Minaj, no desinspirado I Don’t Give A, lança a frase acima referida, se materializa de forma menos feliz. Ao entrarmos na reta final do alinhamento (onde moram as quatro canções trabalhadas com William Orbit acima referidas) entramos num outro disco onde habita outro saber e segurança nos passos que toma, mostrando como se perdeu aqui a oportunidade de fazer o sucessor de Ray Of Light que tão melhor disco teria certamente gerado. A versão com extras junta ainda cinco temas que em nada ajudam o alinhamento e aprofundam os sinais de descaracterização que alguns dos episódios menores do alinhamento do álbum já revelavam. Entre o deve e o haver a média mostra mesmo assim um disco uns tantos (poucos, é verdade) furos acima do falhado Hard Candy. Mas num próximo álbum, se quiser manter um estatuto que é seu desde os oitentas, Madonna terá de ser um pouco mais... Madonna.