David Sylvian
"A Victim of Stars (1982-2012)"
Virgin / EMI Music
5 / 5
São 30 anos de uma história que se recorda em dois discos. Uma visão naturalmente selecionada, parcial até ao deixar de lado a igualmente marcante obra instrumental do músico (haverá uma antologia-companheira em breve, como Camphor complementou Everything and Nothing há uns doze anos?). Mas sabidas das limitações que definem uma antologia, limitada pelo espaço disponível em disco, A Victim of Stars (1982-2012) não podia ser melhor, mais amplo e certeiro retrato da obra a solo de David Sylvian. Diferente dessa outra antologia lançada no ano 2000 (que propunha, além de um olhar do músico sobre a sua obra, uma série de “extras” na forma de outtakes das sessões de discos anteriores entretanto retomados e concluídos em estúdio, um deles recuperando mesmo um tema dos dias de Gentlemen Take Polaroids), o novo disco é o que mais se aproxima da lógica “clássica” do best of. Ou seja, junta pela primeira vez todos os singles da sua obra a solo (o díptico Bamboo House / Bamboo Music, de 1982, surge assim pela primeira vez completo em CD, e inclui ainda Heartbeat, de Sakamoto, single que conta com a sua presença), passa pelas experiências Rain Tree Crow e Nine Horses, evoca o clássico Ghosts (dos Japan, mas na leitura apresentada em 2000 em Everything and Nothing) e não deixa de lado nenhum dos seus álbuns vocais. Como extra apresenta o belíssimo Where’s Your Gravity que, a ser posterior a Manafon, traduz um passo ainda mais seguro no domínio dos métodos de composição definidos sob o recurso à improvisação que têm caracterizado a sua música vocal desde Blemish (2003). Cronologicamente arrumada, a coleção de canções revela a progressiva demanda de formas e caminhos para uma escrita em rota de cada vez maior afastamento dos modelos que antes havia tomado. O percurso reconhece a importância das presenças dos colaboradores que consigo foram moldando as ideias, do núcleo original com os ex-Japan Steve Jansen e Richard Barbieri mais as companhias de Holger Czukay, Jon Hassell e Ryuichi Sakamoto ao relacionamento mais recente com figuras como Evan Parker, Christian Fennesz ou John Tilbury, pelo caminho notando-se as presenças de um Robert Fripp ou Mark Isham, surgindo a partilha de experiências que Sylvian chamou à natural evolução de um percurso. A Victim Of Stars (1982-2012) é além deste cuidado perfil histórico um retrato de um dos mais inspirados e distintos autores do nosso tempo, uma voz (no sentido literal mas também enquanto criador) única que continua a definir um caminho que vale a pena acompanhar.